Warcraft agrada apenas aos fãs do game
Adaptação do jogo de grande sucesso chega aos cinemas
Avaliação do Editor
O crítico de cinema Marcelo Leme comenta sobre Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundo, baseado no jogo de enorme sucesso em várias plataformas.
O cinema é reconhecido por projetar sonhos. O sonho de quem o produz e os sonhos dos outros. O cinema é capaz de realizar qualquer coisa. Nesse sentido, sendo o ser humano tão artisticamente criativo, não faltam temas ou assuntos para serem retratados e adaptados. Dessa forma estão os games que possuem uma história bem desastrosa na sétima arte devido a maioria de suas adaptações. E por quê games ganham adaptações para as telonas? E por que não poderiam, não é?
As principais razões são: o potencial temático, a satisfação dos fãs e a financeira. Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos (Warcraft, 2016) é o atual lançamento baseado no universo dos games. Não tem razão alguma para existir, a não ser pela justa idolatria de seus fãs. Não é um belo filme, porém também não ofende. Existe para quem é apaixonado pelo original, para os fãs dessa história que nasceu lá em 1994.
Existe também para aqueles que apreciam o tema, ainda que na última década já tenham visto a mesma coisa com outros nomes e formas. Assisti ao filme totalmente passivo como se estivesse em casa no sofá assistindo qualquer programa de domingo que pouquíssimo me motivasse a querer saber o que estava acontecendo. Não me empolguei em instante algum, tampouco me emocionei.
Nem mesmo em suas cenas cuja trilha, o roteiro e a cinematografia fizeram de tudo para criar um mínimo de comoção. Se eu tivesse alguma afinidade com o jogo, certamente seria diferente, no entanto, felizmente consegui compreender suas virtudes, seu esforço em provocar encantamento nos fãs. Como dito, o filme é para eles. Não tenho dúvida de que se emocionaram e gostaram, já que compreenderam cada ação e cada referência escondida.
Só que fazer filme unicamente para os fãs é muito pouco. Que continuasse fazendo apenas o jogo já que nada ofereceu ao cinema. O 3D é competente. A cena inicial é ótima! Me parece adequada ao contexto do game. A história é boa, pois não exprime um relés maniqueísmo, todavia o roteiro é fraquíssimo. A bondade e a maldade reside nos dois extremos, no mundo dos Orcs e no dos Humanos. Eles se enfrentam por território.
As motivações são explanadas didaticamente: os Orcs precisam lutar para evitarem sua extinção ao passo que os humanos querem manter o controle local. No meio desse conflito surgem subtramas convincentes e relevantes a sequência da história. Mas até onde isso vai? O CGI a exaustão mais compromete do que ajuda. O filme é todo falso com seus efeitos constrangedores. Se ao menos soasse como uma fábula… mas não. E se leva a sério! Isso é positivo, pois honra sua origem e seus fãs.
Pena os atores serem ruins a ponto de arruinarem seus personagens e toda a construção narrativa em volta deles. Uma boa atuação, às vezes, salva um roteiro infeliz, por dar conta de provocar algo que este não deu conta de fazer. Duncan Jones é bom diretor, vide seu Lunar (2009), mas aqui não consegue fazer muita coisa. A história estava previamente montada e qualquer pisada fora do lugar poderia gerar fortes reações de seus fãs. Então o que fazer senão gritar ação e torcer por uma boa edição? A franquia Warcraft terá sequências.
Ainda que desmotivado por este primeiro filme, quero ver aonde isso vai dar. No roteiro, é visível que este O Primeiro Encontro de Dois Mundos não passa de uma apresentação comedida do universo a qual uma semente fora plantada. Que a coragem dos realizadores impere e que o filme se desdobre não como mais um exemplar do gênero, ou mais uma frustrante adaptação de games, mas enquanto cinema. Game é game; cinema é cinema. Warcraft não se decidiu qual quer ser, ainda que tenha sido exibido na sala escura.
* Marcelo Leme é psicólogo e crítico de cinema. E-mail: marceloafleme@gmail.com