Violeta de Outono: um mergulho nas profundezas do rock progressivo brasileiro

Há pouco mais de um ano tomei conhecimento deste álbum homônimo da banda paulista Violeta de Outono. Estava procurando no Youtube “Tomorrow Never Knows”, dos Beatles, e eis que apareceu uma versão dela tocada pelo Violeta de Outono.

Ouvi e gostei muito e resolvi escutar o restante do álbum. Uma verdadeira pérola lançada em 1987 e que eu nunca tinha ouvido falar até então.

A banda surgiu no fim do regime militar, em 1985, e como uma violeta, floresceu aproveitando-se dos novos ventos tra-zidos pela redemocratização do país, apresentando uma sonoridade diferenciada, com elementos de rock progressivo e pós-punk, flertando ainda com pitadas de jazz, música clássica e até mesmo folk, criando uma atmosfera densa e envolvente ao longo das nove canções.

Dá para perceber que o Violeta de Outono bebe na fonte de bandas como Pink Floyd, Yes e King Crimson, mas sem se deixar engessar por essas referências.

Repare como os teclados têm grande protagonismo, criando verdadeiras “paisagens sonoras”. A utilização de instrumentos acústicos e elementos eletrônicos adiciona camadas de profundidade e textura às composições.

Neste ponto, destaco a instrumental “Sombras Flutuantes”. Lançado em 1987, é o principal trabalho da banda ao longo dos anos. Traz uma sequência de grandes músicas, como “Outono”, “Declínio de Maio”, “Dia Eterno”, “Reflexo da Noite”, “Noturno Deserto”, “Faces” e logicamente, a versão de “Tomorrow Never Knows”, que me fez chegar ao álbum. Cito aqui um trecho de”Dia Eterno”, que para mim, está entre as melhores músicas do álbum:

Silêncio em mim
Espelhos planos
Saídas falsas, vôo, solidão
Só esperando
Vagando em seu olhar
Tudo é deserto, estranho lugar

Você sabe que não temos tempo

Dia eterno, noite escura adentro

O trabalho do Violeta de Outono neste álbum homônimo é espetacular, e além da sonoridade já destacada aqui, destacam-se também as letras introspectivas, carregadas de melancolia, psicodelia e reflexão, explorando temas como a natureza, a passagem do tempo, a existência humana e a busca por significado.

Sem dúvida, um dos principais álbuns do rock brasileiro em todos os tempos e um clássico atemporal.

Escute o álbum na íntegra aqui embaixo. ⇓

* João Gabriel Pinheiro Chagas é jornalista e diretor do Jornal da Cidade. E-mail: joaogabrielpcf@gmail.com