Suicídio de cabo da PM será debatido em comissão
Os fatos relacionados ao suicídio do cabo da Polícia Militar Leandro Cardoso Novais, lotado na 14ª Companhia da PM, em Araçuaí (Vale do Jequitinhonha), vão ser debatidos pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Solicitada pelo presidente da Comissão de Segurança Pública, deputado Sargento Rodrigues (PTB), a audiência pública acontece nesta quinta-feira (7/11/19), no Plenarinho II, às 15 horas.
Conforme relatou o parlamentar na justificativa de seu requerimento, o cabo Novais, casado e pai de dois filhos, residia em Teófilo Otoni (Vale do Mucuri), onde atuava na 15ª Região da PM. Sob acusação de que faria “bico” para complementar sua renda, foi punido administrativamente.
Logo depois, foi punido novamente com sua transferência para a 14ª Cia Independente, em Araçuaí (Vale do Jequitinhonha), por ordem do coronel Sérvio Túlio Mariano Salazar, à época, comandante da 15ª RPM.
Autoextermínio – Desde então, Leandro Novais, inconformado com as punições, passou a apresentar pensamentos de autoextermínio, diante da angústia de ver sua família apenas uma vez na semana. Foram indicados ao policial tratamentos psicológico e psiquiátrico, mas os atestados médicos que apresentava eram todos indeferidos, sob a desconfiança de que ele estaria dando “chapéu”, ou seja, trapaceando para faltar de serviço.
O requerimento revela que, em 23 de abril de 2019, por exemplo, os profissionais de saúde indicaram o afastamento do policial por 30 dias do trabalho, e o atestado foi indeferido. Na época, relatório psicológico de 24 de abril indicava quadro crítico do paciente Leandro Novais, requerendo acompanhamentos multiprofissionais sistemáticos.
O laudo foi elaborado pela psicóloga Nueslete Esteves dos Santos e entregue à também psicóloga e 1ª tenente Samara Dias Tótaro. No relatório, a primeira afirma que o militar apresentava “sintomas psicossomáticos que ultrapassam os campos psicológico e psiquiátrico condizentes com os sintomas descritos no CID X F 43 em estágio avançado”. Esse código na Classificação Internacional de Doenças (CID) equivale a “Reações ao stress grave e transtornos de adaptação”.
O relatório também menciona que o militar enfrentava problemas familiares, como a doença de seu pai e que, recentemente, ficou internado por distúrbios psicológicos apresentando discurso de autoextermínio. Nas últimas sessões, relata o documento, novamente, Leandro Novais voltou com esse discurso e apresentava um quadro de insônia, agitação motora e ansiedade exarcebadas, além de perda de peso considerável.
Internação – Ao final, a psicóloga Nueslete requer “acompanhamento urgente dos fatos relatados, com análise de possível internação do paciente e transferência imediata para Teófilo Otoni, para que faça sessões psicoterápicas duas vezes por semana e receba acompanhamento médico”.
Em 1º de maio deste ano, cita o requerimento de Sargento Rodrigues, o cabo Novais foi internado pelo psiquiatra Luis Antônio Ribeiro no Hospital Philadelfia, em Teófilo Otoni. O militar apresentava descompensação do quadro de base de depressão: paciente com estresse no trabalho, com ideias de autoextermínio e privação do sono há cinco dias. No dia 16 de outubro, Leandro cometeu suicídio em Araçuaí.
Aumento de suicídios – Em 4 de outubro deste ano, a Comissão de Segurança promoveu audiência na ALMG para discutir o aumento dos suicídios entre os profissionais da segurança pública. Foi divulgado dado da ONG Defesa Social, de que em 2019 já tinham ocorrido 34 mortes por suicídio desses servidores.
Foi mostrado também que o suicídio entre policiais e agentes penitenciários e socioeducativos precisa ser combatido com suporte emocional, enfrentamento do machismo, combate ao assédio moral nas corporações e melhorias nas condições de trabalho, ao lado de maior transparência e menos tabu para falar sobre o assunto.
Na ocasião, Sargento Rodrigues mencionou pesquisas para mostrar que o número de suicídios é cinco vezes maior entre policiais do que no restante da população. “É preciso tratar o tema com transparência, mas, ao longo de décadas, os comandos não quiseram fornecer dados sobre o assunto”, criticou.
Convidados – Para esclarecer todos os fatos relacionados ao suicídio do cabo Leandro Novais, em Araçuaí, Sargento Rodrigues convocou os seguintes militares envolvidos no caso: coronel Sérvio Túlio Mariano Salazar, tenente Fábio Marinho dos Santos, major Rafael Fernando de Carvalho, e lª tenente Samara Dias Tótaro.
Transmissões ao vivo – Todas as reuniões do Plenário e das comissões são transmitidas ao vivo pelo Portal da Assembleia. Para acompanhá-las, basta procurar pelo evento desejado na agenda do dia.