Saúde mental pode ter relação com o intestino
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) realizou, em 2022, a maior revisão mundial sobre saúde mental deste século.
O trabalho tem como objetivo fornecer um plano para governos, acadêmicos, profissionais de saúde e sociedade civil no sentido de lembrar ao mundo para a necessidade de cuidar da saúde mental.
Dados da OMS indicam que, em 2019, quase 1 bilhão de pessoas viviam com algum transtorno mental – incluindo 14% dos adolescentes do planeta – que englobam os transtornos de ansiedade, de humor, depressão e outros.
Para incentivar a busca de ações em prol desse tema, foi criado no Brasil a campanha Janeiro Branco, cujo objetivo é chamar a atenção para as questões e necessidades relacionadas à saúde mental e emocional.
O mês de janeiro foi escolhido porque, para a maior parte das pessoas, é o período de repensar a vida, fazer novos planos e projetar sonhos e expectativas.
O Brasil é considerado o país mais ansioso do planeta, com cerca de 19 milhões de indivíduos diagnosticados, e ocupa o quinto lugar no ranking global da depressão, com total de 11,5 milhões de casos.
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Embora o adoecimento mental ocorra por fatores biológicos, psicológicos e ambientais, cada vez mais estudos científicos têm demonstrado que também pode haver uma estreita relação com a microbiota intestinal.
“Alguns cientistas sugerem que a depressão, a ansiedade e outros transtornos mentais estão relacionados à disbiose intestinal e ao funcionamento inadequado do intestino, o que indica que o eixo intestino-cérebro-microbiota pode ter importante papel para o desencadeamento desses distúrbios”, informa a gerente de Ciências e Pesquisas da Yakult do Brasil, Helena Sanae Kajikawa.
Uma revisão sistemática desenvolvida por cientistas da Melbourne School of Psychological Sciences da The University of Melbourne, na Austrália, mostra que evidências crescentes indicam que a comunidade de microrganismos em todo o trato gastrointestinal (microbiota intestinal) está associada a transtornos de ansiedade e depressão.
Segundo os autores, pesquisas sistemáticas, seguindo as diretrizes PRISMA, identificaram 26 estudos: duas comparações caso-controle da microbiota intestinal no transtorno de ansiedade generalizada, 18 na depressão, uma incorporando ansiedade/depressão e cinco incluindo medidas apenas de sintomas.
Pesquisadores do Department of Biological Sciences da Texas Tech University, nos Estados Unidos, publicaram um artigo mostrando que o estudo do microbioma intestinal tem revelado cada vez mais um papel importante na modulação da função cerebral e da saúde mental.
Nesta revisão, destacam caminhos e mecanismos específicos pelos quais o microbioma intestinal pode promover o desenvolvimento de transtornos mentais, como depressão e ansiedade, documentam vários caminhos pelos quais a inflamação induzida pelo estresse prejudica a função cerebral e, em última análise, afeta a saúde mental, e revisam como os tratamentos com probióticos e prebióticos demonstraram ser benéficos.
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Em um estudo realizado por pesquisadores chineses com a cepa probiótica Lactobacillus casei Shirota (LcS) foram investigados os possíveis efeitos do LcS no alívio de sintomas depressivos e na composição da microbiota intestinal.
Ao final do experimento, os cientistas observaram uma melhora significativa nos sintomas depressivos após a ingestão do probiótico LcS. Em outro estudo, cientistas avaliaram o probiótico LcS na síndrome da fadiga crônica (SFC), uma doença complexa de etiologia desconhecida que, entre a ampla gama de sintomas, pode levar a distúrbios no âmbito emocional, como a ansiedade.
As pesquisas indicam que pacientes com SFC e outros distúrbios somáticos funcionais apresentam alterações na microbiota intestinal, e os cientistas sugerem que as bactérias intestinais patogênicas e não patogênicas podem influenciar os sintomas relacionados ao humor e o comportamento em animais e humanos.
Neste estudo piloto, os pesquisadores relataram uma diminuição significativa nos sintomas de ansiedade, sugerindo uma interface intestino-cérebro.
Apesar dos muitos resultados que indicam essa conexão entre os dois órgãos, a comunidade científica mundial concorda que há necessidade de ampliar os estudos para a obtenção de mais comprovações sobre o eixo cérebro-intestino-microbiota.
Portanto, entender a relação dos mecanismos envolvidos com a composição da microbiota intestinal pode ser um caminho para a descoberta de novas soluções terapêuticas para esses transtornos que prejudicam tanto a vida de milhares de pessoas.
“Independentemente dos novos resultados, há um consenso entre os cientistas de que é fundamental manter o bom funcionamento do intestino para a manutenção da saúde e a longevidade”, acentua Helena Sanae Kajikawa.