Falta de profissionais fluentes cria gargalos para a economia brasileira
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O Ethnologue é uma instituição que pesquisa línguas minoritárias e que fornece estatísticas globais de falantes divulgou na edição de 2022 que as quatro línguas mais faladas do mundo são em primeiro lugar o inglês com 1,453 bilhões de falantes, seguido do mandarim com 1.119 bilhões, hindi com 602 milhões e o espanhol com 559 milhões de falantes.
Relativamente aos falantes nativos, o mandarim lidera com 920 milhões, seguido do espanhol com 475 milhões, em terceiro lugar o inglês com 373 milhões e em quarto lugar o hindi com 344 milhões. Ao contrário das demais línguas onde a quantidade de falantes nativos lidera em absoluto, no inglês, a relação entre falantes não nativos (1,080 milhões) e nativos (373 milhões) é de 2,90 vezes indicando o caráter de principal língua global e de negócios do mundo.
Segundo a pesquisa mais recente sobre proficiência da língua inglesa no Brasil divulgada pelo British Council apenas 5,1 % da população brasileira com 16 anos ou mais afirmam possuir algum tipo de conhecimento de inglês, destes 47% (2,37% da população) encontra-se no nível básico e 16% (1% da população) está no nível avançado e possui alguma fluência em inglês. Outra característica da pesquisa é a concentração do conhecimento nas faixas de renda mais altas. Entre a população de alta renda 9,9% declararam possuir algum conhecimento de inglês contra 3,4% da classe média, a pesquisa não forneceu dados das classes de renda mais baixa.
O descasamento entre oferta e demanda por profissionais fluentes em inglês
O descasamento entre as necessidades das empresas por profissionais fluentes em inglês e uma oferta limitada desses profissionais no país pode gerar gargalos para a economia nacional. A falta de proficiência em inglês pode representar um obstáculo significativo para a inserção do Brasil nos mercados globais, tanto os para indivíduos quanto para a economia brasileira como um todo.
Américo Figueiredo, vice-presidente de recursos humanos da operadora de telecomunicações Nextel relata que “a falta de fluência em inglês é mais um dos problemas com que as empresas estão tendo que lidar no Brasil. Temos poucos profissionais qualificados que também sejam fluentes em uma língua estrangeira, o que faz com que esses talentos sejam intensamente disputados pelas empresas”.
O Prof. Diercio Ferreira, economista e autor do livro Seu futuro no mercado financeiro – CPA 20 Certificação Profissional Anbima Descomplicada relata que “a falta de proficiência em inglês de grande parte da força laborativa pode afetar negativamente a economia brasileira e a competitividade dos indivíduos no mercado global, limitando as oportunidades de negócios, a educação e a pesquisa científica”.
Possuir inglês avançado pode incrementar rendimentos em até 170%
A pesquisa Catho 2022 de remunerações do mercado de trabalho brasileiro traz dados interessantes sobre o impacto da fluência de idiomas e mais especificamente do inglês nas remunerações.
A dispersão de rendimentos entre os profissionais com fluência avançada em inglês e aqueles não fluentes é enorme. A maior disparidade que chega a 170% acontece nos cargos de consultores onde a média salarial mensal de um profissional não fluente é de R$ 3.587,00 contra R$ 9.669,00 para um consultor com inglês avançado. Para os cargos de Diretoria. Supervisão e Coordenação, a diferença salarial chega a 155% sendo R$ 1.6030,00 para fluentes contra R$ 6.280,00 para não fluentes e a menor dispersão 43% acontece nos cargos de Assistente e Auxiliar com R$ 1.708,00 contra R$ 890,00.
Vantagens de falar mais de um idioma
A neurociência tem mostrado que os cérebros dos bilíngues possuem diferenças significativas comparativamente aos cérebros dos monolíngues. Mechelli e al. (2004) no artigo publicado na revista nature Structural plasticity in the bilingual brain citam que “a estrutura do cérebro humano é transformada pela experiência em adquirir uma nova língua e que aprender um segundo idioma aumenta a densidade da matéria cinzenta no córtex parietal inferior esquerdo e que o grau de reorganização estrutural nessa região é modulado pela proficiência alcançada e pela idade na aquisição. Essa relação entre densidade da matéria cinzenta e desempenho pode representar um princípio geral de organização cerebral”.
Alberto Costa e Núria Sebastian Gallés no artigo How does the bilingual experience sculpt the brain? relatam que “os bilingues enfrentam maiores demandas de processamento que levam a um aumento na atividade cerebral. Esse aumento nas demandas de processamento, que começa na infância e continua ao longo da vida, possivelmente aumenta a reserva cognitiva em idosos”.
Impactos do aprender inglês na vida profissional
Do ponto de vista profissional falar mais de um idioma pode ampliar as oportunidades de trabalho, especialmente em segmentos que têm uma forte presença internacional ou que lidam com clientes de diferentes países e pode melhorar o desempenho no trabalho, pois ajuda a comunicar-se melhor com os colegas de trabalho e clientes de diferentes países.
Falar mais de um idioma pode ampliar as habilidades de negociação e pode criar vantagens competitivas nas negociações com clientes e parceiros comerciais de diferentes países.
E finalmente, falar mais de um idioma pode melhorar a capacidade de se adaptar a novos ambientes e culturas, o que é amplamente valorizado em muitas empresas especialmente as empresas globais.