Por que existe tanta música ruim?
O diretor do Jornal da Cidade, João Gabriel Pinheiro Chagas, tenta entender porque existe tanta música ruim atualmente
O jornalista e diretor do Jornal da Cidade, João Gabriel Pinheiro Chagas, tenta entender porque existe tanta música ruim na atualidade.
“Somente música ruim faz dinheiro hoje”. A frase é emblemática e dita por ninguém menos do que Friedrich Nietzsche. Isto mesmo. Nietzche, o filósofo alemão que viveu entre 1844 e 1900 e que é referência de pensamento ocidental.
Naquela época, predominava o estilo Romântico, que não estava relacionado com o sentimento de amor como conhecemos hoje em dia, mas, sim, intimamente ligado a uma visão sonhadora da realidade. Os grandes nomes da música no período eram Beethoven, Chopin, Wagner, Verdi, Tchaikovsky e Debussy, entre outros.
Não é preciso ser especialista em música para saber que estes nomes são consagrados e inquestionáveis, ainda que não se aprecie o estilo. Se Nietzsche já achava, no século 19, que a música já estava se desvirtuando, o que diria se ele vivesse hoje em dia? Pois bem. Todos temos nossas preferências musicais.
Vamos tratar do caso no nosso quintal, ou seja, no Brasil. A cada mês, de cada ano deste século 21, algum artista importante da música brasileira tem morrido, o que tem gerado alguma sensibilização, ainda que momentânea. Infelizmente, o tempo, a idade e suas mazelas têm vitimado parte do grande patrimônio cultural do país.
O que mais preocupa não são apenas estas mortes; é a falta de peças de reposição. A cada artista importante que morre, não vemos surgir outros que possam substituí-lo. Nesta sexta-feira, 4, tomamos conhecimento que o Luiz Melodia nos deixou. Alguém, recentemente, tinha se lembrado dele, ou escutado alguma coisa composta ou cantada por ele? Possivelmente, não.
Luiz Melodia tem participação em algumas das grandes canções da música brasileira, mas que por toda a sua grandiosidade, no caso dele, pode-se dar o luxo de dizer que está em um patamar abaixo. O que não diminui sua importância. É muito difícil ser competitivo no maior celeiro de produção musical do mundo.
Antes do Luiz Melodia ter morrido, estava pensando qual seria o grande nome vocal masculino que o país (ainda) tinha, com o avanço voraz de cantores sertanejos, que na verdade, cada vez menos pode se dizer que sejam sertanejos, mas de algum gênero que ainda não foi nominado.
Pensei na hora no Emílio Santiago, mas ele morreu em 2013. Forcei a memória e constatei que o Milton Nascimento ainda é o maior nome (vocal). Não me lembrei em algum momento sequer do Luiz Melodia. Mas me lembrei que os grandes nomes que todos nós cultuamos não produzem mais. Ou se produzem, é em escala bem menor.
É outro desafio entender porque grandes nomes da nossa música não fazem mais músicas como antes. Não sou especialista em música e nem pretendo ser. O que considero que acontece com todos aqueles artistas brasileiros que sempre amamos é que falta motivação e inspiração depois de terem ficado ricos.
Os grandes clássicos ou até mesmo as músicas mais relevantes do nosso país sempre foram compostas por artistas em busca do seu lugar ao sol, invariavelmente, embebidos por álcool ou afins, o que, dizem, favorece a inspiração. Depois de muito dinheiro no bolso, talvez não fosse mais necessário ter que se inspirar para criar tantos hits.
Alguém se lembra aí do grande sucesso recente do Roupa Nova, Djavan ou Fábio Jr.? Os royalties destas músicas, mais os shows de sempre, ajudam a manter a receita de qualquer artista das antigas.
Neste meio tempo, surgem inúmeros artistas e compositores falando de assuntos ou temas que são mais atuais, mas não necessariamente, relevantes. Assim, comparando passado e presente, temos compositores/cantores ainda na ativa, mas desmotivados pelo ganho exagerado que praticamente matou a inspiração, em contraponto com uma leva de novos cantores que (quase) não compõem nada, mas que se valem de compositores espertos e antenados com as demandas dos dias atuais. Quem você prefere?
* João Gabriel Pinheiro Chagas é jornalista e diretor do Jornal da Cidade. E-mail: joaogabrielpcf@gmail.com