PIL
O jornalista Daniel Souza Luz escreve sobre o impacto que a banda PIL provocou em sua vida
O jornalista Daniel Souza Luz escreve sobre o impacto que a banda PIL, criada a partir dos Sex Pistols, provocou em sua vida a partir do momento em que ouviu pela primeira vez.
Sex Pistols era uma das minhas bandas favoritas no fim dos anos oitenta, talvez então fosse a favorita. Às vezes lia sobre o Public Image Limited, o PIL, o grupo que John Lydon montou logo depois da dissolução dos Pistols em 1978, abandonando o nome Johnny Rotten, mas só podia imaginar como era o som.
Quando ouvi pela primeira vez, logo percebi a diferença fundamental do pós punk para o punk: eu ouvia nitidamente o baixo de Jah Wobble, era outra pegada, embora próxima. Na verdade, já conhecia a banda de um vídeo, gravado pelo meu amigo Maurício Rodrigues, do programa Vibração, na extinta TV Manchete, que falava surf e às vezes de skate.
Era uma reportagem mostrando como foram as demos de Tony Hawk e Lance Mountain nas pistas de skate do Brasil, em 1988; uma das músicas do vídeo era Fodderstompf. Eu e meu irmão adorávamos o “rap” que mandavam em cima de uma base eletrofunk, uma falação no qual distinguíamos apenas que estavam ironizando, em meio ao pouco que sabíamos de inglês, a pieguice do amor.
No entanto, não fazíamos ideia de que banda era, não havia identificação das músicas e só conhecíamos o Sisters of Mercy, célebre banda gótica, na trilha sonora. A primeira vez que me dei conta de que estava ouvindo o PIL foi emocionante: no programa Matéria-Prima, apresentado por Serginho Groisman na TV Cultura na virada dos anos oitenta para os noventa. Durante o encerramento, tocou uma música na qual logo reconheci o vocal de Lydon, mas o timbre da guitarra era muito diferente da de Steve Jones, do Sex Pistols, e tão brilhante quanto.
Em especial, consegui ouvir o baixo, algo que tentava fazer nas músicas dos Pistols e não conhecia reconhecer nada debaixo daquelas camadas superpostas de guitarras – só depois de começar a fazer aula de baixo que distingui o pálido som de base feito, reza a lenda, pelo próprio Jones, pois o baixista Sid Vicious não conseguia gravar adequadamente.
A música do PIL que rolou no Matéria-Prima era Public Image, descobri ao conseguir gravar o disco ao pegar emprestado com um amigo, o João Louco, creio que no final daquele ano ou em 1991; antes, como não tinha acesso, aproveite-me de uma particularidade de Poços de Caldas.
Assistia ao Matéria-Prima na TV Cultura; ao final de todo programa tocava uma música diferente. Como uma emissora iria se instalar no município em 1990, começaram a transmitir o sinal carioca da TVE concomitantemente à TV Cultura. Sei lá porque cargas d’água, sempre que acabava o programa a TVE cortava o sinal ao vivo e passava o final daquele Matéria-Prima no qual tocava Public Image quase na íntegra.
A vantagem é que havia um delay entre as transmissões e este atraso de uns dois minutos permitia-me ver o final do Matéria-Prima de novo. Era o único jeito, para mim, de ouvir PIL à época. Toda tarde, sem exceção, assistia ao programa na TV Cultura e depois trocava de canal para escutar minha amada música no final “alternativo” inventado pela TVE.
* Daniel Souza Luz é jornalista e revisor. E-mail: danielsouzaluz@gmail.com