Termômetro da intolerância
Após a polêmica postagem feita no Twitter, o vereador Paulo Tadeu se defende
Após a polêmica postagem feita no Twitter sobre a manifestação de 13 de março, o vereador Paulo Tadeu assina artigo em sua defesa.
Ao longo da semana que passou, fui vítima de dois ataques covardes. Aproveitando-se do fato de estarem em seus carros em movimento, duas pessoas atingiram-me com xingamentos de baixíssimo calão. Já há via acontecido outras vezes e em situações até mais graves, quando fui contido por amigos para não reagir a altura às agressões. Meu crime? Ser petista, parece.
Ao longo da mesma semana, a mobilização para os atos de domingo tiveram de tudo – desde as grandes redes de televisão em militância ativa contra o governo, até a mais indigente provocação pelas redes sociais, rasas, ignóbeis. Não se contentam apenas com o sagrado direito da manifestação, de serem contrários; o que colocaram em marcha é a tentativa de destruição da diversidade, de quem pensa diferente, de quem defende princípios, de quem tem coragem de não se abater e seguir em frente.
O combustível é o ódio, em particular aos que mantém a cabeça erguida, ou nas palavras do poeta Walter Franco – “mente esperta, a espinha ereta e o coração tranquilo. Estamos em uma quadra de linchamentos, de anulação da democracia e do debate, estamos em tempos de crise de caráter, que pode ser sintetizada na afirmação – “Fulano é ladrão, mas está do nosso lado”, que ilustrou as passeatas de ontem. Para agredir-nos todos os meios e palavras valem, toda generalização é possível, nenhum limite existe.
Devem entender isso como um direito fundamental – ferir e magoar pessoas que pensam diferente; abraçam como valor supremo o exibir caricaturas degradantes de adversários, como a presidenta da República em vasos sanitários, de pernas abertas na tampa do tanque do carro, o ex-presidente como presidiário. Tripudiam sem meias palavras ou meias imagens, ignoram deliberadamente que causam sofrimento aos familiares das pessoas. Enfim, vale tudo na militância da raiva, onde a intolerância, tal qual baba peçonhenta, explode das bocas mais suaves. Se esse é o direito deles, qual é o meu? O de ficar calado, não reagir, não resisitir, não me manifestar?
Miguel de Unamuno, poeta e filósofo espanhol, em solenidade de abertura do ano na Universidade de Salamanca, onde era reitor, após um discurso fascista e desqualificador de bascos e catalães, disse: “Conhecei-me bem e sabeis que sou incapaz de permanecer em silêncio. As vezes, permanecer calado equivale a mentir porque o silêncio pode ser interpretado como aquiescência”. As pessoas que me conhecem sabem que não ficaria calado diante dessa onda agressiva e insensata. Foi o que fiz, postei, com ironia, em minha conta no twitter uma frase quase neutra sobre a manifestação e manifestantes. O mundo caiu!
Agressores contumazes se sentiram desrespeitados, colocam-se em posição de vítimas. Eu não agredi, eu reagi, eu não dirigi palavrões nem postei imagens detratoras, não constrangi, nem humilhei familiares de quem quer que seja. Não creio que se sintam ofendidos com o que falei, mas revoltados por eu ter falado, ter respondido. Em tempos de ódio, o adversário (ou inimigo?) não pode ser tão ousado.
Quem bem conhece a si próprio, não pode se ofender; a não ser apenas e tão somente para negar o meu direito de ser, o meu direito de acreditar, o meu direito de viver em uma democracia que ajudei a construir. Se alguém mais sensível se sentiu injuriado, não temo pedir desculpas, não vejo problemas em recuar. No domingo, dirigindo-me a minha casa, com minha mulher e meu neto no carro, recebi mais uma homenagem civilizada.
Vestido de verde-amarelo, um cidadão quase pulou no meu carro para me mandar “tomar no c…”! Com minha mulher e um neto de três anos no carro! Estamos vivendo uma guerra incivil e sobre ela, no mesmo discurso, Unamuno disse: “O ódio – que não deixa lugar à compaixão – não pode convencer”.
* Paulo Tadeu é médico-veterinário, ex-prefeito e vereador pelo PT