Uma em cada quatro pessoas não paga passagem de ônibus em Poços

Excesso de gratuidades prejudica o sistema de transporte coletivo, diz Circullare

A grande quantidade de gratuidades oferecida no sistema de transporte coletivo em Poços de Caldas preocupa a concessionária do serviço público.

“A gratuidade é um benefício que deve estar condicionado à previsão legal da origem dos recursos, como determina a Lei Orgânica e isto não ocorre em Poços. As gratuidades são incorporadas ao valor da tarifa e no final das contas, quem paga é o trabalhador, o que não é justo”.

A fala é do gerente geral da Circullare, Armando Bertoni, ao relatar que um em cada quatro passageiros não paga passagem no transporte coletivo na cidade.

“Não somos contra as gratuidades, pois entendemos que é um benefício social que atende idosos, gestantes e outras categorias. Contudo, a própria Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, a NTU, alerta que o excesso de gratuidades onera a tarifa e inviabiliza o transporte coletivo”, ressalta Bertoni.

TARIFA MENOR
Segundo ele, o valor da tarifa poderia ser muito menor, o que não ocorre, entre outras razões, pelo excesso de gratuidades sem fonte de custeio e exemplifica.

“Vamos imaginar que o custo operacional (combustível, salários, insumos, impostos etc) para transportar quatro passageiros seja de R$ 12. Se cada passageiro pagasse o mesmo valor e não houvesse gratuidades, a passagem seria de R$ 3 para cada um, ou seja, haveria um rateio igual entre os passageiros para suprir o custo do Sistema. Contudo, se um deles não paga a passagem e não se tem fonte de custeio para cobrir custos, o valor da passagem teria que ser de R$ 4 para manter o equilíbrio econômico-financeiro do Sistema. Daí a grande dificuldade nossa de manter uma tarifa mais acessível à população, pois, como diz o ditado, é do couro que sai a correia”, diz.

INTEGRAÇÃO
Bertoni destaca ainda que qualquer passageiro se desloca de qualquer local da cidade, pagando uma tarifa ou, no máximo, uma tarifa e meia utilizando o Cartão Amigo.

“Hoje, são cerca de 120 mil passageiros utilizando o benefício da Integração com descontos de 50% a 100% no valor da passagem. Um estudante hoje sai do Conjunto Habitacional para ir até o Colégio Municipal. Primeiramente ele vai até a Estação Central pagando apenas meia passagem, ou seja, R$ 1,90. Depois ele pega uma Linha Troncal até o Colégio Municipal, com desconto de 100%, ou seja, a segunda viagem é de graça. Outro exemplo é de uma pessoa que vai do Parque Pinheiros até o Marco Divisório. Ela vai até o Terminal pagando uma passagem e na segunda linha até o Marco Divisório, pagando apenas 50%, ou seja, ela paga apenas uma tarifa e meia para todo este trajeto. Poderíamos citar vários exemplos, onde as pessoas têm benefício de 50% ou 100% na segunda linha”, enfatiza.

PASSE ESTUDANTIL
“Como citei, a Lei Orgânica afirma que qualquer gratuidade deve ser acompanhada de fonte de custeio adequada para bancar os custos gerados. Contudo, a Lei 8.668 que criou a concessão do Passe Escolar, cita como fonte de custeio o busdoor, esta publicidade na parte traseira dos nossos ônibus, o que comprovada-mente não cobre nem os custos dos atiradores do Tiro de Guerra, citados como beneficiários na mesma lei. Importante ressaltar que na oportunidade da criação da lei, em maio de 2010, a Circullare se manifestou contrária porque entendia que a fonte de custeio referida não conseguiria cumprir com o necessário equilíbrio econômico-financeiro do Sistema, o que é uma realidade”, afirma.

Questionado sobre as Linhas Especiais Universitárias, autorizada em 2014 pelo decreto 11.207, Bertoni cita que elas foram criadas em caráter experimental por seis meses, porém, elas se mostraram deficitárias.

“As Linhas Especiais Universitárias foram criadas em caráter experimental durante seis meses para atender os alunos da PUC, Pitágoras e Unifal. Fomos muito além do prazo determinado buscando a adesão dos universitários. Contudo, a utilização se mostrou muito abaixo da expectativa, se tornando totalmente deficitárias, com raras exceções. Daí tivemos que reduzir o serviço, já que os universitários reivindicaram, mas não estavam utilizando as linhas especiais, o que onera o sistema e reflete no aumento da tarifa”, afirma.

SUBSÍDIO
“O cenário do transporte coletivo é muito grave. Segundo o Valor Econômico de junho/2017, 56 empresas de ônibus que operam no transporte público de passageiros encerraram suas atividades. Entre as causas, a crise no país, os aumentos constantes no valor do óleo diesel, o transporte clandestino de passageiros, a ausência de prioridade ao transporte público…tudo isto impacta negativamente o setor. Uma das alternativas, já aplicadas em outros municípios como São Paulo, é o subsídio. Na capital paulista, o passageiro paga atualmente R$ 4 na passagem, contudo, a prefeitura oferece o subsídio de R$ 2,85, ou seja, se não fosse o subsídio, o passageiro em São Paulo pagaria R$ 6,85. Enfim, precisamos nos conscientizar que o transporte coletivo em nossa cidade passa por um momento grave, o que está comprometendo a sua continuidade”, concluiu Armando.