Os trailers de lanche e a Alameda

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O alcaide anunciou que pretende solucionar a velha questão dos trailers de lanches situados nas proximidades da Praça Pedro Sanches e Palace Cassino.

A iniciativa é correta porque enfrenta um problema legal que se arrasta há muito tempo e que, sem dúvida, privilegia um grupo de pessoas que exploram as atividades em espaço público.

Escrevo esse texto lembrando, antes de mais nada, que quando estivemos à frente da administração municipal regularizamos o uso e estabelecemos taxas a serem recolhidas em razão de exploração comercial do espaço – cadeiras de bares nas calçadas, bancas de jornais, carrinhos de lanches, trailers, etc.

Portanto, temos que considerar que a premissa que levará a futura licitação dos novos quiosques está absolutamente correta. Dois aspectos da iniciativa, entretanto, merecem maiores considerações.

O primeiro é a truculência, a ausência do diálogo, o mandonismo, próprio das pessoas egocêntricas, que se julgam mais importantes, que não se importam com a felicidade ou infelicidade do próximo, insensíveis as angústias e ao sofrimento que suas atitudes podem causar.

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Por menosprezar o outro, por se sentir superior, o mandão se realiza na brutalidade, na demonstração de poder (que nem sempre tem). Nada mais simbólico que pedir apoio da Polícia Militar para notificar pessoas pacíficas, pais e mães de família, que há anos vendem lanches na praça.

O segundo é o projeto arquitetônico em si. Segundo informações os quiosques estariam padronizados em quarenta e cinco metros quadrados, quando hoje o espaço utilizado não chega a vinte metros quadrados.

Qual é a razão ou razões desta definição unilateral, sem diálogo, parida das cabeças de planilha enfurnadas no dia a dia da burocracia? Especulo que são duas as razões – a elitização do futuro certame e a segregação social.

Com quiosques de quarenta e cinco metros quadrados, restringe-se a participação no certame a um grupo seleto de empresários de bares e restaurantes com capacidade de pagar taxas de ocupação mais elevadas e fazer a montagem do empreendimento.

Trata-se de sofisticar a atividade, não com um processo de capacitação e melhorias para se atingir determinado grau de exigência, mas “limpando a área” para os que têm mais recursos. Essa primeira especulação leva diretamente à segunda – a segregação social.

Com atividades comerciais mais elitizadas, “gourmets” – como se diz hoje dia – sofistica-se também a clientela e a população de mais baixa renda deixa de frequentar aquela área, uma forma torpe e criminosa de higienismo social.

Se o objetivo, correto, for apenas a regularização do uso, o caminho é bem mais simples, seis passos, não mais que isso: 1- diálogo e respeito ao próximo; 2 – respeito à história das pessoas que construíram a tradição dos “trailers”; 3 – revisão do tamanho dos quiosques projetados; 4 – localização provisória e conjunta dos atuais comerciantes em área central enquanto se constrói a tal alameda; 5 – aplicação, como no caso dos feirantes, da lei complementar 198 para cessão do espaço novo por período combinado entre as partes e 6 – ao fim do prazo, processo licitatório em que fundamentos de alcance social sejam considerados.

* Paulo Tadeu é ex-prefeito, ex-vereador, médico veterinário e presidente do Diretório Municipal do PT