Ordem do Dia 30/10/24

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Na coluna Ordem do Dia, o historiador, advogado e cientista Político Marco Antônio Andere Teixeira faz uma breve análise sobre fatos do dia.

Depois de uma “overdose” de eleições, envolvendo milhares de municípios, dezenas de milhares de candidatos e milhões de eleitores, alguns casos em dois turnos, por todo o Brasil, estamos na reta final da eleição norte-americana.

Isso nos interessa? Pergunta difícil de responder. Especialmente num país onde o “não voto” venceu na maioria dos casos.

A regra, nestas últimas eleições municipais, teria sido uma só: abstenções, votos nulos e brancos, somados, foram os grandes vencedores. Na grande maioria dos municípios.

Daí vem o dilema: se o brasileiro mostra-se indiferente às próprias eleições, o que dirá das eleições alheias? Numericamente, a resposta pode sugerir uma piada. Ou pior: um palavrão.

Mas graças à possibilidade de diferentes opiniões, no ambiente democrático, haveria outras visões. Uma delas seria essa: para milhões de brasileiros, a eleição, na terra do Tio Sam, poderia ser mais importante que nossas eleições domésticas.

Refiro-me, primeiramente, aos inúmeros brasileiros que vivem e trabalham nos EUA. E ainda temos aqueles que sobrevivem graças aos negócios com aquele país, que vão da importação e exportação de itens de consumo (os EUA seriam nosso segundo maior parceiro comercial), bem como aqueles envolvidos com turismo, ensino, entretenimento e intercâmbios culturais diversos, com esse país.

Para nossas forças armadas, essas eleições têm um importante componente estratégico, o mesmo valendo para todo o Ocidente. Mormente num quadro onde conflitos armados, e disputas internacionais diversas, parecem ter reinaugurado o clima ameaçador da Guerra Fria.

Entretanto, em especial para os latinos, em geral, o último comício Republicano tem um gosto amargo. Esse evento, o último da campanha de Trump, foi marcado por uma sucessão de insultos racistas contra os latinos.

A começar contra os porto-riquenhos. Se estendendo aos demais latinos, negros e até palestinos. Vistos, em algumas situações, como um “monte de lixo”.

Alguns norte-americanos racistas e ignorantes se sentem invadidos por latinos, em particular. Mas a verdade seria outra.

Inicialmente, territórios com grande população latina foram militarmente invadidos e transformados em estados dos EUA. Seria o caso da Califórnia, do Texas, do Novo México, do Arizona e até de Porto Rico, administrado pelos EUA.

E mais: “latino” não seria uma referência étnica, mas sim linguística e cultural. Inclui as pessoas que falam português, espanhol, italiano, francês e até romeno.

Tendo a ver com a antiga Roma, que falava o latim e, de resto, foi responsável pela civilização da Europa e pela construção da ideia de Ocidente.

Antes de Roma, e dos latinos, a Europa não passava de um amontoado de tribos bárbaras, fedidas, analfabetas e ululantes.

Após a queda do Imperio Romano, durante séculos, o velho continente viveu a “idade das trevas”, marcada pelo retrocesso civilizatório, científico, cultural e tecnológico. O que foi interrompido pelo Renascimento, predominantemente latino. Uma era de ouro para a humanidade.

Alguém deveria explicar essas coisas para os eleitores e admiradores de Trump. Que muitas vezes se comportam como as tribos bárbaras, selvagens, fedidas e analfabetas, que por milhares de anos caracterizaram o continente europeu.

E agora caracterizam milhões de eleitores de Trump. Especialmente quando invadem o Capitólio, promovendo quebradeira e assassinatos.

* Marco Antônio Andere Teixeira é historiador, advogado, cientista político (UFMG), pós-graduado em Controle Externo (TCEMG/PUC-MG), Direito Administrativo (UFMG) e Ciência Política (UFMG). E-mail: marcoandere.priusgestao@gmail.com