Ordem do Dia 26/12/23
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Na coluna Ordem do Dia, o historiador, advogado e cientista político Marco Antônio Andere Teixeira faz uma breve análise sobre fatos do dia.
Nesse período de festas de fim de ano, vários temas são recorrentes. Bem como as lembranças, nem sempre boas, que se apresentam.
Mas poucas questões seriam tão contraditórias quanto os deliciosos pratos, a serem servidos nas ceias, encontros e festas de confraternização.
A contradição seria radical: a boa comida traz satisfação, prazer, contentamento e, simultaneamente, sofrimento, privação e segregação. Mas como?
O prazer da boa mesa é acompanhado do medo de engordar. Do sentimento de culpa, pelos excessos. E, lamentavelmente, pela segregação das pessoas.
As opções das delícias são acompanhadas pelas restrições a idosos, diabéticos, cardiopatas, obcecados com a boa forma e assemelhados. Ou, simplesmente, incomodam tristemente aqueles curtos de grana. Para todos esses, o banquete é um inferno.
Curiosamente, e no mesmo diapasão, seria possível dizer que a arte culinária é uma atividade muito peculiar, melindrosa e incomparável.
O resultado dessa arte não pode ser preservado em museus, em publicações, em concertos ou em filmagens. Nós a comemos. Ponto. Seria a arte efêmera, por excelência.
Que desperta os sentidos, as sensações, promove encontros e prazeres indescritíveis. Mas termina, literalmente, em merda. Pode-se recuperar alguma imagem do prato. Nada mais, salvo uma tênue lembrança.
O cozinheiro, por outro lado, é o artista que tem que provar seu talento todos os dias, mais de uma vez no mesmo dia e por toda a vida.
Se ele parar de produzir sua arte, deixa de ser artista, cai no completo esquecimento e na mais absoluta inutilidade. Da sua arte, nem cheiro fica…
E mesmo com atuações monumentais, o cozinheiro pode ser odiado. Tanto por aqueles, de alguma forma, privados de seus pratos, quanto por outros, que têm pleno acesso aos prazeres à mesa.
Esses, muitas vezes pensam: “comi demais e engordei (ou passei mal) por causa dessa comida boa. Maldito cozinheiro!” Poisé… Não existiria arte tão contraditória. Nem período do ano, tão controvertido.