Ordem do Dia 21/11/23

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Na coluna Ordem do Dia, o historiador, advogado e cientista político Marco Antônio Andere Teixeira faz uma breve análise sobre fatos do dia. 

A eleição de Milei, presidente da Argentina, tem resultado num mar de especulações. As mais curiosas têm sido as de natureza política: há de tudo. Milei vai de “clone” de Bolsonaro a inimigo de Lula.

A possibilidade de ambas as visões estarem certas, entre outras possíveis, se daria na mesma medida de estarem erradas. Logo, de nada valem. Nem mesmo como especulação.

As arengas de ordem econômica seriam igualmente enganosas. Vez que as candidaturas argentinas disseram tudo, menos o que interessa objetivamente.

Simplesmente, não houve debate em torno de propostas concretas, ou construídas com níveis aceitáveis de razoabilidade, fundamentos ou verossimilhança. O debate foi sobretudo histérico e impressionista: sem limites ou contornos claros.

Uma das propostas, o fim do Mercosul, depende da anuência do Congresso argentino, onde Milei patina na minoria. A destruição do Banco Central, conforme deseja o novo presidente, depende, seguramente, de alguma formalidade legal. O que nos leva, novamente, ao Congresso e, também, ao Judiciário argentino.

Nada parece muito simples, portanto. E quanto à dolarização da economia dos “hermanos”? Como seria? Embora, na prática, as trocas monetárias argentinas sejam dolarizadas há décadas, sua oficialização seria obscura. Isso nos levaria, novamente, a alguma formalidade legal, de ordem macroeconômica.

O que sugere, novamente, a presença das mesmas instituições citadas: Congresso e Judiciário. Mais incertezas. Mas há dois fatos que emergem cristalinos: o titular macroeconômico dos dólares seria a autoridade monetária norte-americana. Nessa medida, Milei não vai ficar sem Banco Central. Vai substituir o BC da Argentina pelo seu equivalente dos EUA. Vero?

Além disso, não se tem notícia histórica de um país do porte da Argentina, que possui um grande território, uma grande população e que já foi a sexta economia do mundo – e teve a maior renda “per capita” do planeta – subsistir sem autoridade monetária.

Significa abrir mão de parte significativa de sua soberania, “terceirizando” decisões macroeconômicas importantes. Para os EUA, naturalmente. Vero? Poisé… Milei diz que vai. Mas onde chegará? Mistério…

Haveria um alento: no passado, o Brasil enfrentou uma crise econômica terrível, de hiperinflação e estagnação econômica. O Plano Real resolveu. Milei pode pedir ajuda ao Brasil, assim como Massa pediu ajuda aos marqueteiros de Lula.

Ocorre que Itamar é falecido. E seu então ministro da economia, Fernando Henrique Cardoso, parece um pouco claudicante. É provável que não dê certo um Plano Real na Argentina. Assim como não deu certo o marketing petista, nas terras portenhas…