Ordem do Dia 10/07/23
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Na coluna Ordem do Dia, o historiador, advogado e cientista político Marco Antônio Andere Teixeira faz uma breve análise sobre fatos do dia.
Uma tragédia pode resultar num drama. Com o desabamento de um prédio no Recife, ocupado irregularmente por famílias sem teto, uma série de preconceitos foram veiculados.
Um deles, pode desvalorizar a moradia de milhares de outras famílias: seria a classificação da modalidade construtiva do edifício como “prédio caixão”. A expressão, além de incorreta, é de mal gosto, pois lembra um caixão funerário.
Centenas de milhares de outras propriedades foram edificadas com essa mesma técnica. E continuam íntegras há dezenas de anos.
As famílias, que vivem nessas estruturas, seguramente não gostaram da expressão. E podem ter se sentido em perigo.
Na verdade, a técnica é conhecida como “alvenaria estrutural”, foi comumente utilizada, entre outras situações, na construção de grandes conjuntos habitacionais, financiados pelo extinto Banco Nacional da Habitação.
O BNH, em mais de 20 anos de existência, financiou mais de 4 milhões de imóveis, em todo o Brasil. Talvez a metade desses imóveis, destinados a famílias de baixa renda, foram edificados conforme essa técnica.
E continuam de pé. Tal sistema é utilizado até hoje, com sucesso. E antes que alguma dúvida surja, seria bom esclarecer que a extinção do BNH deu-se por razões financeiras e não por culpa de técnicas de construção ruinosas.
Aliás, mesmo prédios de luxo podem ruir, em razão de métodos criminosos, utilizados na construção civil. Quem se lembra do caso do Edifício Palace II, que ruiu em área nobre da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, sabe disso.
Mas, infelizmente, o preconceito, filho mais velho da ignorância, continua fazendo vítimas por aí.
* Marco Antônio Andere Teixeira é historiador, advogado, cientista político (UFMG), pós-graduado em Controle Externo (TCEMG/PUC-MG) e Direito Administrativo (UFMG). E-mail: marcoandere.priusgestao@gmail.com