Ordem do Dia 09/01/24

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Na coluna Ordem do Dia, o historiador, advogado e cientista político Marco Antônio Andere Teixeira faz uma breve análise sobre fatos do dia. 

A CPI proposta para investigar as ONG’s, que se dedicam à população de rua, em São Paulo, tem mais importância do que parece.

Se sua motivação é apenas eleitoral, ou se pretende atingir o padre Júlio Lancelotti, parece irrelevante. Já que o problema dos “malditos” da sociedade, essa população de mendigos, drogados e sem esperança, seria o que interessa.

Qualquer CPI tem objetivos políticos e uma natureza limitada. A grande maioria apresenta resultados parciais, às vezes duvidosos, sendo que muitas não chegam a lugar nenhum.

Seria possível citar dois exemplos recentes: a CPI da saúde, de âmbito federal, e a CPI da CEMIG, de ordem estadual. Alguém saberia apontar algum resultado dessas iniciativas? Mas essa, de São Paulo parece inútil, mesmo antes de ser realizada.

Primeiro, porque problematiza uma atividade sacerdotal, ou filantrópica, legítima. Segundo, porque, de plano, se dirige a um problema sem a pretensão de resolvê-lo.

Talvez apenas “revolvê-lo”. Ninguém parece ter simpatia por esse amontoado de farrapos humanos. Exceto alguns abnegados, do tipo do padre Júlio Lancelotti.

Mas o questionamento, feito pelo próprio padre, parece procedente: se ele desaparecesse, desaparecia a população de rua? E a CPI, por sua vez? Vai equacionar essa chaga social?

Muitos pensam que seria melhor se esses enjeitados morressem. Talvez, muitos deles estivessem melhor mortos, do que vivendo como vivem. Entretanto, vale perguntar: a quem caberia essa decisão?

Quem teria autoridade para decidir o destino desses desgraçados? Não se trata de uma indagação religiosa, ou demagógica, mas se refere à nossa própria humanidade.

Essa escória, amaldiçoada por muitos, se não reflete o que somos, poderia representar o que poderíamos ser. Se submetidos às mesmas condições e experiências que definiram essas pessoas.

É assustador, mas pode ser um objeto de reflexão, mostrando o quanto somos fracos, ou suscetíveis. Ou o quanto podemos sê-lo.

Além do quanto cada um de nós, ou alguém próximo, poderia estar sujeito à desgraça absoluta. Essa seria a típica imagem que não gostaríamos ver refletida, quando olhamos no espelho.

E que precisa ser evitada. Os que se consideram invulneráveis ou inatingíveis, que atirem a primeira pedra. Sob o risco de atingir o próprio telhado de vidro.