Ordem do Dia 04/12/23

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Na coluna Ordem do Dia, o historiador, advogado e cientista político Marco Antônio Andere Teixeira faz uma breve análise sobre fatos do dia. 

Uma discussão comum, no passado, era o dilema entre obra e filme. A questão seria: “gostou mais do filme, ou do livro?”

Normalmente, aqueles que tinham visto o filme, e lido o livro que o fundamentou, preferiam o livro. Em geral, porque o livro seria mais “completo”.

Mas nem sempre. Do ponto de vista das emoções derivadas de ambos, muitas vezes haveria uma espécie de “empate”. Ou mesmo acontecia do filme superar o livro.

Na literatura infanto juvenil, obras de Júlio Verne sempre proporcionaram bons filmes. Um caso de “empate” seria “Vinte mil léguas submarinas”: ambos muito bons.

Do mesmo autor, “A volta ao mundo em 80 dias” teria, no filme, um resultado excepcional. Especialmente em razão do carisma dos protagonistas: David Niven, Mário Moreno (Cantinflas) e Shirley Maclaine se superaram. Direção e produção também foram primorosas.

Mas haveria situações em que o filme, derivado de algum livro, tornou-se emblemático. Sendo considerado uma obra-prima: seria o caso de “O poderoso chefão”, especialmente os dois primeiros (da trilogia), que muitos apontam como estando entre os melhores, de todos os tempos.

Projetando seu diretor, Francis Ford Copolla, no panteão dos grandes cineastas. Fazendo, igualmente, a fama de seus protagonistas. A obra de Mário Puzo, por sua vez, um “best seller”, nunca passou disso.

Outro filme de grande impacto, “E o vento levou”, seria um dos clássicos de todos os tempos. Já a obra não foi muito além de uma lamúria, em defesa de um regime escravocrata.

Em que pese as qualidades literárias de sua autora, Margaret Mitchell, vencedora de um Pulitzer. O livro foi objeto de grande sucesso editorial, mas não se tornou referência da literatura, dada sua filiação escravista.

Em 1936, quando publicado, fez grande sucesso. Hoje, seria considerado “politicamente incorreto”. Perdoem o anacronismo…

Mais recentemente, podemos apontar um filme mais emocionante que a obra correspondente: seria “O último dos moicanos”, de grande sucesso de público, com excelentes protagonistas e magistralmente produzido e dirigido.

Mas haveria dois “empates” entre livros e filmes: um seria “O código Da Vinci”. Ou outro, “Uma mente brilhante”.
O primeiro tornou-se uma verdadeira febre mundial, cujo único correspondente seria “Harry Potter”. Tanto no livro, quanto no filme, “O código…” esbanja movimento bem articulado, além de argumentos estruturados.

Já “Uma mente brilhante”, tanto na obra quanto no filme, traz uma mensagem de grande valia: louco não é necessariamente burro. Nem, tampouco, inválido.

A história de um esquizofrênico, ganhador de um Nobel, é impressionante, sob todos os aspectos. Principalmente porque espelha um fato incontroverso.

Ao fim e ao cabo, remanesce uma dúvida: por qual razão esse tipo de discussão acabou? Sobre qual seria melhor, o livro ou o filme?

Na era da Netflix, os filmes são feitos de modo muito peculiar. Prescindem dos elementos clássicos da filmografia de grande envergadura. Principalmente de grandes roteiros, de origem literária. Uma exceção recente seria “Napoleão”. Em relação a esse, infelizmente, a crítica anda muito crítica…

Ademais, a literatura parece capenga. Para ficar só no Brasil, já tivemos Machado, Monteiro Lobato, Guimarães Rosa, Clarisse Linspector, Adélia Prado, Érico Veríssimo e até mesmo o controverso Jorge Amado, entre outros. O que temos hoje? No máximo, um literal “Estorvo”…

Lamentavelmente, ninguém parece mais se interessar por grandes filmes de qualidade. Até as salas de cinema se apequenaram.

Finalmente, nos tempos de internet, e de educação à beira da mendicância, livro ninguém mais lê. Muitos nem sabem o que é. Nesse ritmo, nosso futuro seria um só: de volta para as cavernas.