Ordem do Dia 02/04/24

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Na coluna Ordem do Dia, o historiador, advogado e cientista Político Marco Antônio Andere Teixeira faz uma breve análise sobre fatos do dia. 

O processo de cassação do senador Sérgio Moro diz muito sobre o período em que vivemos, na política nacional. “Algo incompreensível”, diria Caetano Veloso.

É certo que a história não se repete. Novas condições sempre se apresentam. Nessa medida, a sentença de Heráclito de Éfeso parece correta: “tudo flui”.

A mudança seria perpétua, ininterrupta. Mas sempre temos algum parâmetro. Entretanto, o personagem Moro reflete uma complexidade única, de difícil comparação: afinal, onde se encaixaria esse homem, no contexto da presente polarização?

A condição de Moro desafiaria até o filósofo Parmênides: qual seria sua essência política? Como referenciá-lo?
A possível perda de seu mandado seria fruto de ações, e denúncias, vindas tanto do polo petista, quanto bolsonarista.

Moro surgiu como a Nêmesis do PT. Parece razoável a disputa entre ambos. Bolsonaro, por sua vez, se apresenta como uma espécie de “Medéia” de Moro, na esteira do exemplo de Gustavo Bebianno (entre outros, “devorados” pelo ex-presidente).

Moro, por sua vez, não se declara pertencente à inconclusiva “terceira via”, ou algo parecido. Daí, repetimos a questão: politicamente, onde se encaixa Moro? Não parece simples responder. Um enigma digno da Esfinge.

Visto que o espaço político, ocupado por Moro, parece ser uma faixa própria, talvez única, viria a lembrança de um antigo adágio, supostamente usado por Tancredo Neves: “catitu fora da manada é papá de onça”.

Qual seja: isolado como está, Moro não teria vida longa. A “onça” do momento seria a Justiça Eleitoral, atiçada pelos muitos adversários de Moro.

O Ministério Público já teria se manifestado contra Moro, pedindo sua cassação. Qual será o desfecho? A política dirá para Moro “ne me quitte pas” (não me deixes)?

Ou Moro, em agonia, cantará: “se você não me queria, não devia me procurar, não devia me iludir, nem deixar eu me apaixonar…”. Não importa em qual língua: o cancioneiro popular sempre tem algo a dizer…

* Marco Antônio Andere Teixeira é historiador, advogado, cientista político (UFMG), pós-graduado em Controle Externo (TCEMG/PUC-MG), Direito Administrativo (UFMG) e Ciência Política (UFMG). E-mail: marcoandere.priusgestao@gmail.com