Ordem do Dia 01/04/25
Na coluna Ordem do Dia, o historiador, advogado e cientista político Marco Antônio Andere Teixeira faz uma breve análise sobre fatos do dia

Quem assistiu à novela "Vale tudo", em 1988, deve ver com alguma curiosidade o anúncio de seu "remake", na Rede Globo.
Sob intensa publicidade, a nova "Vale tudo" trará de volta alguns personagens emblemáticos. A começar de Odete Roitman.
A atriz que protagonizou a personagem, Beatriz Segall, já falecida, tornou-se referência de cruel vilã e representante de um tipo de visão negativa do Brasil.
Odete não apenas desprezava o Brasil, como também seu povo e sua cultura. Suas observações eram odiosas, revelavam puro preconceito e profunda hostilidade. Odiava o Brasil assim como tudo relativo ao nosso país.
Havia motivos para isso. O fenômeno mais devastador era o da inflação, que empobrecia dramaticamente a todos, e muitas pessoas, dessa geração, só pensavam em emigrar. Não havia empregos, nem alternativas aparentes.
As condições atuais lembram essas disfunções, em alguma medida. Entretanto, há que se acautelar contra o anacronismo, pois a mentalidade, da época, em nada se assemelha com os tempos atuais.
Não havia telefonia celular, os telefones fixos eram um privilégio. Não havia Internet, ou computadores pessoais, e os automóveis estavam disponíveis somente para a elite.
Não havia "influencers" e ninguém se declarava de direita. Nem mesmo os partidos dessa tendência. O PFL se declarava "liberal". Assim como o PL. O PTB era "trabalhista" e o partido do Collor, que acabou impichado, era "reformista".
A memória da ditadura militar suscitava vergonha. Ninguém queria ser associado a semelhantes "gorilas". Inclusive os gorilas.
E agora vem, de novo, a "Vale tudo". Este colunista assistia novela diariamente, assim como a maioria da população brasileira. Era um programa barato e dava o que falar. A Globo, então, era quase uma unanimidade.
Em tempo: não havia TV a cabo. E até o controle remoto era uma raridade. A vida era assim. E apesar disso, havia mais alegria e esperança.
Ainda que, assim como Odete, odiássemos muita coisa. Principalmente a carestia. Mas sobrevivemos. Até hoje, pelo menos.
* Marco Antônio Andere Teixeira é historiador, advogado, cientista político (UFMG), pós-graduado em Controle Externo (TCEMG/PUC-MG), Direito Administrativo (UFMG) e Ciência Política (UFMG). E-mail: marcoandere.priusgestao@gmail.com
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