Olé

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O jornal argentino “Olé! ” ironizou a eliminação do Brasil, na Copa América. E usou, como mote, uma crítica do ex-jogador Ronaldinho Gaúcho, feita há cerca de um mês: desqualificando o empenho dos jogadores da seleção canarinho.

Indagado à época, Ronaldinho informou que a declaração se dava no bojo de uma campanha publicitária, precedida por uma pesquisa, que teria apontado a ausência de confiança na Seleção, por parte da torcida brasileira. “Crônica de uma morte anunciada”: não deu outra.

Considerando o lamentável resultado, além do desanimador futebol apresentado durante a competição, o futebol brasileiro estaria distante de seu padrão histórico. Aliás, essa tem sido a marca dos tempos atuais: a ausência de confiança e de padrões, não apenas no futebol.

O perfil que temos, nas mais diversas áreas, indicaria a desconfiança e a imprevisibilidade. As últimas pesquisas, divulgadas pelo DataFolha, seriam provas disso, no que se refere às próximas eleições municipais. Eleições? Pois é.

A maioria dos entrevistados sequer se encontra interessada no pleito, que se dará em menos de três meses. Esse dado informa outra característica corrente, entre a opinião pública: o desinteresse.

Considerando as três principais capitais do Sudeste, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, a resposta “não sabe”, dada pela maioria dos entrevistados, diz muito. No Rio, 53% “não sabem”. Em São Paulo, seriam 55%.

Já em Belo Horizonte, 73% “não sabem”. Daí a próxima pergunta: não sabem do que? O exame dos dados desagregados, se divulgado, mostraria o que se encontra oculto: os eleitores não sabem indicar um único candidato de sua preferência.

Pior: a maioria não sabe, sequer, que haverá eleições em algumas semanas. Muito menos que, brevemente, teremos convenções partidárias. Vemos, assim expresso, o flagrante desinteresse.

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Eis o busílis. Ante o exposto, para que servem essas pesquisas? Verdade seja dita: para pouca coisa, ou quase nada. Mostram, quando muito, a lembrança do eleitorado de algum candidato, mais conhecido.

O que alguns chamam, na publicidade, de “recall” ou “handcap”, talvez impropriamente. Essas pesquisas, efetivamente, indicam apenas o passado. Sequer, esclarecem o presente, pois o presente é feito de desinteresse.

Outra prova disso seria o desempenho, dos principais candidatos, desde a última pesquisa (feita há cerca de um mês): encontram-se exatamente onde estavam, tecnicamente falando.

Levando-se em conta margem de erro, desvio padrão, e o intervalo de confiança, dessas pesquisas, nada aconteceu em mais de trinta dias. Por que?

A ausência de interesse do eleitorado causa esse imobilismo, haja vista que a terra não deixou de girar, nesse período. Mas, e quanto à ausência de padrões?

Essa seria preponderante. A tal polarização só é vista, claramente, em São Paulo, assim como a fraqueza do centro democrático. No Rio, Eduardo Paes, atual prefeito, político de centro, caminha para uma vitória ainda no primeiro turno.

Em BH, bem, para definir BH temos que recorrer ao cancioneiro popular. Teríamos, na Capital dos mineiros, uma espécie de “Samba do crioulo doido”.

Qualquer dos pré-candidatos apresenta, tecnicamente, chances de vitória. Com um agravante: não temos o “crioulo”, mas “doidos” não faltam. O anúncio do tratamento de câncer do atual prefeito, Fuad Noman (desconhecido por cerca de 70% do eleitorado), pode mudar alguma coisa.

Não por razões políticas, diga-se. Sua doença teve repercussão nacional. Seus adversários reclamam que esse anúncio se prestaria a “vitimizar” o atual prefeito, trazendo-lhe vantagem eleitoral. Pergunta-se: qual vantagem haveria em se ter câncer?

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Talvez denunciem Fuad, junto à Justiça Eleitoral, acusando-o de “abuso de poder”, por ter câncer. É só o que falta. De resto, a ausência de padrões parece ser mundial.

O avanço da extrema direita, na Europa, vê-se desmoralizado pela acacha-pante vitória do partido Trabalhista inglês, de volta ao poder após 14 anos de ausência. Além da reviravolta na França, no segundo turno eleitoral.

Após a sonora vitória da extrema-direita, no primeiro turno, a esquerda venceu no segundo escrutínio. O que contrariou as pesquisas, que indicavam uma massacrante vitória da direita. Ninguém entendeu.

Nos EUA, a discussão não seria em torno de projetos ou perfis políticos, mas em razão de saúde e de capacidade para governar. Lá temos dois candidatos, na faixa dos 80 anos de idade, com problemas de senilidade. Trump, seria senil em virtude de suas ideias, rigorosamente senis.

Já Biden seria senil por não ter qualquer ideia, de tipo algum. Finalmente, tudo isso prova que o modelo tradicional de pesquisas, por amostragem, estaria superado.

Quando coordenamos as pesquisas regionais, na reeleição do governador Antônio Anastasia, propusemos uma nova metodologia, que indicava o “índice de viabilidade eleitoral” de cada candidato.

Um algoritmo específico foi proposto. Deu certo. Na ocasião, contamos com a preciosa ajuda do ex-prefeito, de Poços de Caldas, Luís Antônio Batista.

Ele foi responsável pela organização da equipe de pesquisadores de rua, que trabalhou muito bem. Tempos depois, fomos convidados para fazer o mesmo trabalho, na primeira pré-campanha do atual prefeito, Sérgio “Coopoços”. Fomos muito bem-sucedidos.

O trabalho teria sido essencial para a vitória do atual prefeito, segundo o próprio. Só faltou o pagamento. Levamos um sonoro “calote”. Não recebemos, sequer, um cartão de “Feliz Natal”.

Só faltaram dizer, aos costumes dos malandros (especialmente os vindos do Rio de Janeiro…), a célebre expressão: “perdeu, mané”. Pois é. Nem mesmo a melhor ciência resiste aos proverbiais caloteiros. Olé!

* Marco Antônio Andere Teixeira é historiador, advogado e cientista político. E-mail: marcoandere.priusgestao@gmail.com