O Monastério recicla clichês e aposta no terror psicológico
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Exorcismo é um dos subgêneros mais explorados nos filmes de terror. Desde o lançamento de O Exorcista (1973), dezenas de produções que beberam na fonte do mal chegaram nos cinemas, home video e agora nos streamings.
O Monastério (2022), recém-lançado na Netflix, é mais uma destas produções que busca explorar este universo. Ainda que seja mais uma reciclagem de clichês, o filme deve agradar aos fãs do subgênero.
O que difere um pouco O Monastério de demais produções do subgênero é o local onde a história é ambientada. Como o próprio título do filme indica, a trama se passa em um monastério isolado na Polônia.
O filme começa com um flashback em 1957. Um padre está prestes a assassinar um bebê no púlpito de uma igreja, o que sugere que a criança seja algum tipo de anticristo. Com certeza, você já assistiu algo parecido.
A trama pula para 30 anos depois, em 1987, na mesma Polônia. O monastério onde se passa todo o restante do filme mostra a chegada do jovem padre Marek (Piotr Żurawski), que é recebido pelo prior do local (Olaf Lubaszenko), que indica que as coisas não serão tranquilas.
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Inicialmente, é apresentado que o padre recém-chegado está ali para tentar descobrir um suposto caso envolvendo jovens que desapareceram na região e que segundo consta, teriam sido levadas para o monastério para a realização de rituais de exorcismo.
A partir deste momento, a trama sugere que de fato o local está envolvido em algum tipo de mistério paranormal, mas existe algo muito mais sinistro pela frente.
Como já foi dito anteriormente, casos de exorcismo no cinema são amplamente conhecidos, mas O Monastério tenta abordar a situação de forma diferente. Inclusive, há brecha para uma crítica ao mercantilismo religioso.
Essa tentativa de fugir dos clichês parece ser o grande objetivo dos roteiristas Bartosz M. Kowalski (também diretor) e Mirella Zaradkiewicz na abordagem da trama e de certa forma, é bem sucedida, especialmente quando passa a focar mais no ocultismo.
Tanto que existem situações realmente bizarras e chocantes que são reveladas a medida que a trama avança. Neste ponto, o roteiro consegue de fato inovar e surpreender.
Desde o início, a atmosfera do filme é sempre retratada de forma sombria e escura, permeada pela tensão permanente sobre o que irá acontecer a seguir. Praticamente não se vê a luz do sol, indicando que o local está sob permanente escuridão, em todos os sentidos.
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Sem dúvida, a direção de arte e de fotografia são pontos positivos do filme. Mesmo se passando em 1987, o monastério parece que ainda está nos tempos da Idade Média, com as clausuras em condições espartanas, calabouços insalubres, cemitério de provocar calafrios e passagens secretas onde menos se espera.
Durante o filme, não há como não se lembrar de O Nome da Rosa (1986), grande referência em filmes ambientados em locais religiosos. Enquanto o primeiro aposta mais no suspense psicológico, este busca mesclar o mistério com situações muito mais assustadoras.
Há também referências interessantes à trilogia Invocação do Mal (2013-2021) em relação ao uso de tecnologia para registrar os fenômenos paranormais, o que até então não é muito explorado em filmes sobre exorcismo.
O ato final é o grande momento do filme. O clímax, que se encaminha para uma sucessão de clichês que dá a impressão de que tudo vai terminar de forma previsível, surpreende e coloca O Monastério em um patamar acima da maioria das obras deste subgênero. Não à toa, é um dos filmes mais assistidos da Netflix desde que foi lançado.
* João Gabriel Pinheiro Chagas é jornalista e diretor do Jornal da Cidade. E-mail: joaogabrielpcf@gmail.com