O carrinho vazio e o bolso estourado

Abr 26, 2025 - 11:31
O carrinho vazio e o bolso estourado

Olha, meus amigos, o Brasil conseguiu mais uma façanha digna de aplauso... de pé, mas de sarcasmo! 

A alta dos preços dos alimentos chegou a um ponto em que o cidadão sai de casa com o bolso cheio de dinheiro - e volta com um carrinho que mal enche a sacola da feira. 

E ainda tem que ouvir explicação econômica com gráfico colorido e nome em inglês!

O povo não aguenta mais. E sabe o que mais me irrita? É ver que essa indignação toda é tratada como “volatilidade de mercado”. 

O arroz tá caro? Culpa do clima, da guerra na Ucrânia, da cotação do dólar, da crise no Mar Cáspio. É sempre a tal da “complexidade global”. 

Mas ninguém olha pra prateleira vazia do trabalhador. Ninguém desce do planalto pra sentir o drama de quem ganha R$ 1.412 por mês e vê a carne como um luxo de fim de ano.

Ontem ouvi uma senhora na fila do caixa dizendo:
- "Moço, eu trouxe R$ 100 achando que ia fazer a feira da semana. Saí com pão, 1/2 kg de café, 20 ovos, farinha de trigo, extrato de tomate e alguns legumes. E ainda devo R$ 3,70 no fiado da quitanda."

Não é piada, é rotina. É o Brasil real, aquele que não aparece nos discursos oficiais nem nas redes sociais dos engravatados.

E sabe o que é mais revoltante? É ver supermercado lotado de segurança e vazio de promoção. É o medo de roubo sendo maior que o medo da fome. 

Porque quando a fome aperta, a linha entre o certo e o errado começa a borrar. E o Estado? O Estado faz o quê? Solta pacote de bondade meia-boca, aumenta o teto do auxílio sem estruturar nada, faz barulho com medida provisória e não resolve o básico: o prato do brasileiro.

O Brasil tem o solo mais fértil do planeta, colhe toneladas de alimento pra exportar, mas o brasileiro não come. O Brasil produz, mas não distribui. Cresce pra fora, encolhe por dentro.

O povo não quer esmola, quer dignidade. Quer poder olhar uma peça de carne sem fazer conta mental.

Quer botar fruta na lancheira do filho, arroz e feijão no prato, e quem sabe até um docinho de vez em quando, sem se sentir criminoso.

O que a gente tá vivendo não é inflação, é humilhação. É o empobrecimento silencioso de uma classe média que já virou baixa, e de uma classe baixa que hoje tá à margem de tudo - inclusive da paciência.

Se não acordarem agora, vão acordar tarde demais. O povo sabe votar, sabe protestar e, mais cedo ou mais tarde, sabe cobrar.

* Gregório José é jornalista, radialista e filósofo. E-mail: gregoriojsimao@yahoo.com.br

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