Apesar dos pesares, Jogos Vorazes foi uma bela franquia
Nível conseguiu ser mantido ao longo dos filmes
Avaliação do Editor
O crítico de cinema Marcelo Leme analisa o final da franquia Jogos Vorazes. Apesar do resultado não ter sido satisfatório neste último filme, o balanço da franquia é positivo.
Jogos Vorazes: A Esperança – O Final terminou e o resultado não foi dos mais satisfatórios. Eu realmente gostaria de concluir aqui, mas preciso justificar razões. Não questiono em nenhuma hipótese o valor político e filosófico dessa saga. Foi sem dúvidas uma ótima surpresa e um prazer acompanha-la em vários de seus momentos.
É uma sobrevivente entre tantas outras sagas, mantendo um bom nível ao longo de seus filmes. Dividida em duas partes em seu último capítulo, uma artimanha cafajeste cujo intuito fora garantir mais lucro, a franquia terminou morna e com uma cena final absolutamente cafona (desde a representação a cinematografia). E o que veio antes dessa cena? A queda do poder. A ascensão do poder. Diferentes vertentes de poder colidem em frente a uma heroína que parece não dar a mínima a nenhum deles. Essa heroína, a arqueira Katniss Everdeen, deseja paz. Entende que para ter paz, precisa lutar.
Vivida por uma brilhante Jennifer Lawrence, Katniss é a grande força reinando na franquia, que ainda conta com outros ótimos atores, um capricho artístico e um arco dramático precioso. Mas nem tudo empolga ou merece muitos elogios. Particularmente me incomodei com o romance que tanto pesou e pouco ofertou a história. Dois homens vividos por dois atores a baixo da capacidade dramática do resto do elenco, Josh Hutcherson e Liam Hemsworth. Lawrence parece interagir com bonecos quando junto a eles. Lançado recheado de excessos – o que me leva crer que novamente o cinema preocupou-se menos com ele e mais com o livro que adaptou –, o filme não deslancha. Se prende, não desenrola. Às vezes cansa.
Algumas horas na sala de edição garantiria uma obra mais enxuta, interessante, relevante e concisa, dignificando a história que apresenta. Critico com desgosto essa nova mania de dividir um último capítulo em dois filmes. Não é somente o cinema que é comprometido, mas o respeito com seu público. Se a intenção é agradar unicamente os fãs dos livros, que fizessem então uma série. Nela caberia mais enrolações. E sobre essa conclusão?
A mudança de condutores – leia-se diretores – travaram a ação ao longo de todos os filmes. Francis Lawrence, responsável pelos últimos filmes, até demonstra algum cuidado quando conta a história, deixando-a cada vez mais sombria e violenta. Mas perde a identidade adquirida em seu início, fazendo um percurso inverso: se o fim deveria reservar seu principal momento, então percebemos que estes ficaram nos primeiros filmes. Resta, sim, um grande momento em A Esperança – Final.
E nele reside a atenção ao desempenho de grandes interpretes para a atmosfera de uma cena funcionar. Jennifer Lawrence, Julianne Moore e Donald Sutherland resplandecem dividindo a tela. Woody Harrelson e Philip Seymour Hoffman seguem ótimos. Esse último, um dos melhores atores de sua geração, deixará saudades. E Stanley Tucci? Este fora esquecido aqui. Que fim infeliz ao seu personagem. Dessa forma, parece-me que Jogos Vorazes: A Esperança – O Final foi valoroso diante tudo o que havia apresentado, mas é inevitável pensarmos que há um material muito melhor desperdiçado o qual jamais teremos acesso. Apesar dos pesares, foi uma bela franquia.
* Psicólogo e crítico de cinema, escreve sobre cinema às quartas e finais de semana