Inovação é usada para cuidar da retenção urinária feminina

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Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) cerca de 10 milhões de brasileiros têm problemas de retenção urinária e estudos internacionais apontam que cerca de 3 em cada 100.000 mulheres desenvolvem retenção urinária anualmente.

A retenção urinária não é uma doença, mas sim, uma condição clínica que afeta mulheres e homens e geralmente está associada a outros problemas de saúde, caracterizando-se pelo esvaziamento incompleto da bexiga ou pela perda da capacidade de urinar.

Existem dois tipos de retenção urinária: crônica e aguda. A crônica desenvolve-se ao longo do tempo e nem sempre apresenta sintomas imediatos, já que a pessoa até consegue urinar, porém, não esvazia completamente a bexiga.

Já a retenção urinária aguda ocorre de forma repentina ou inesperada, por exemplo após uma lesão medular por trauma, fazendo com que a pessoa perca a capacidade de urinar mesmo com a bexiga cheia, o que além de dor e distensão abdominal.

Ambos os tipos quando não diagnosticados e tratados podem resultar em infecções urinárias recorrentes, comprometimento e/ou falência renal.

Basicamente existem duas causas de retenção urinária: obstrutiva e não obstrutiva. A obstrutiva na maioria dos casos é resultante de pedras nos rins que obstruem o canal da uretra, impedindo a urina de fluir livremente pelo trato urinário.

Este tipo de retenção urinária, apesar de incomoda e dolorida, pode ser revertida com tratamento medicamentoso ou, em alguns casos, com cirurgia.

Já a não obstrutiva é a que mais impacta na vida da mulher, porque nem sempre pode ser revertida. Ela pode estar relacionada a doenças neurológicas e/ou degenerativas que interferem na comunicação entre o cérebro e a bexiga como a esclerose múltipla e a mielo meningocele; ou a lesões medulares como o trauma raquimedular, uma lesão na coluna vertebral resultante de acidentes automobilísticos, disparos com arma de fogo, entre outros, e que pode deixar a pessoa paraplégica ou tetraplégica, como aconteceu com a pernambucana Daniela Bezerra, de 30 anos de idade e que, há 12 anos, convive com a retenção urinária.

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“Um tiro, disparado por um ex-namorado, resultou em uma lesão medular que comprometeu minhas funções motora, sensorial e autonomia. Por isso, além do uso da cadeira de rodas, faço uso diariamente do cateterismo intermitente limpo (CIL) para esvaziar a bexiga”, explica Daniela, que além de influenciadora digital, é paratleta, fotógrafa e empreendedora.

Apesar da revolta inicial ao saber que estava paraplégica, Daniela Bezerra diz que a fé e o apoio familiar contribuiriam para que extraísse o melhor daquele acontecimento trágico.

“A limitação está dentro da nossa cabeça. Por isso, eu decidi encarar a cadeira de rodas como o meio para me levar até meus sonhos. Nem ela e nem a retenção urinária me limitaram. Ao contrário, elas me trouxeram novas e muitas oportunidades; conheci locais e pessoas incríveis! Hoje, me aceito e me amo com todas as cicatrizes e mudanças no meu corpo, porque elas fazem parte da minha nova versão”, conta a paratleta brasileira de arremesso.

Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), o cateterismo vesical intermitente (CVI) “é o tratamento de escolha em pacientes com disfunção de origem neurológica ou idiopática do trato urinário inferior”.

O CVI consiste na introdução de um cateter no canal da uretra para drenar a urina contida na bexiga, que é depositada em um recipiente externo (bolsa coletora) e depois descartada.

Existem as técnicas para realização do CVI as mais conhecidas são a do cateterismo intermitente estéril, que segundo as diretrizes da SBU é um procedimento “complexo e oneroso” e, por isso, geralmente utilizado durante a internação hospitalar, e a técnica do cateterismo intermitente limpo (CIL), considerada atualmente como o padrão ouro em cuidado porque utiliza materiais não-estéreis, exigindo apenas a limpeza das mãos e da região genital, portanto, podendo ser realizada também fora do ambiente hospitalar.

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Atualmente, os cateteres utilizados para a realização do CIL são os do tipo convencional, ou seja, feitos em PVC e não revestidos com hidrogel ou silicone.

Exatamente por terem orifícios não polidos e não lubrificados, evidências científicas apontam que este tipo de cateter oferece um maior risco de complicações ao usuário. Entre elas, as mais comuns são o trauma de uretra e as infecções urinárias recorrentes.

De acordo com a Diretrizes de Atenção à pessoa com Lesão Medular do Ministério da Saúde, anualmente no Brasil são registrados entre 6 e 8 mil novos casos de trauma raquimedular (lesão medular) como a sofrida por Daniela Bezerra e de cada 10 pessoas com lesão medular que recebem alta hospitalar, quatro tem indicação para a realização do cateterismo intermitente limpo (CIL).

Outros estudos apontam que os usuários de CIL com cateter convencional têm, em média, 3.5 infecções urinárias por ano.

Já a infecção urinária foi apontada como a maior preocupação de 41% dos lesionados medulares que realizam CIL com cateter convencional, segundo um estudo publicado na revista Nature.

Entretanto, uma nova tecnologia – o cateter do tipo hidrofílico, que já teve sua incorporação ao Sistema Único de Saúde (SUS) recomendada pela Conitec (Portaria 37/2019), pode mudar o atual padrão de cuidado em retenção urinária.

“Eu já utilizo o cateter hidrofílico da Coloplast, marca da qual sou embaixadora”, menciona Daniela Bezerra, que afirma ter “mais qualidade de vida e autonomia” depois que passou a realizar o CIL com este novo tipo de cateter.

Os estudos internacionais e nacionais indicam que o cateter do tipo hidrofílico que Daniele utiliza, reduz o atrito na inserção e, consequentemente, os traumas na uretra porque é feito em poliuretano com revestimento hidrofílico e com os orifícios polidos e lubrificados. Além disso, reduz em até 21% o risco de incidência de infecções urinárias.