Indústria 4.0: o recente momento de rupturas de um ciclo tecnológico

O professor Leandro Morais comenta sobre o conceito de "Indústria 4.0", uma tendência irreversível no setor industrial

A 1ª Revolução Industrial, eclodida na Inglaterra no segundo quartel do século XVIII, abriu o caminho para ondas de ciclos tecnológicos, que se iniciaram pela máquina a vapor e o tear mecânico.

Posteriormente, a 2ª Revolução industrial (século XIX) aprimorou e intensificou brutalmente o processo, concebendo a energia elétrica, o aço, as grandes corporações econômicas e financeiras, o motor à combustão e a inserção da ciência e da tecnologia no sis-tema produtivo – industrial.

No século XX, tais adventos caminharam para um novo ciclo tecnológico, com base na biotecnologia, nas tecnologias de informação e de comunicação e na robótica, abrindo possibilidades para a nanotecnologia e o uso permanente e crescente da internet das coisas.

O momento atual é marcado pelo avanço incremental destas tecnologias, em caráter expansivo, permanente e irreversível, caracterizando o que especialistas no tema chamam de “indústria 4.0”.

Em início de agosto de 2017, tive a oportunidade de participar de um importante evento relacionado ao tema, o “II Encontro Nacional de Economia Industrial e da Inovação”, realizado no Rio de Janeiro. O evento contou com a participação das maiores referências internacionais no tema e permitiu ter uma noção do que será a indústria nos próximos 5 – 10 anos.

Embora com teor prospectivo, com base em sérias pesquisas que estão se desenvolvendo nos principais centros de origem desta nova onda tecnológica, já podemos ter a noção do que se trata: UBER, Airbnb, Inteligência Artificial em suas diferentes dimensões, IBM Watson, carros elétricos (Tesla), energias renováveis, Tricorder X, bitcoin, automação inteligente, modularidade, impressão 3D, Big Data, aplicativos Moodies, Nanotecnologia, Nanoquímica, cloud computing etc.

Tal fenômeno contempla uma profunda ruptura tecnológica, pois significa a emergência de um novo padrão tecno-lógico e produtivo – industrial, que mescla aspectos digital, físico, biológico e cultural que trará profundas alterações nas cadeias de valor.

A trajetória dos prazos de impacto de certos condutores da mudança difere entre indústrias e é moldada pela natureza específica do modelo de negócio ou setor. Entretanto, é evidente que o ritmo de transformação das indústrias como um todo é sem precedentes.

Para se ter uma ideia da realidade, Poços de caldas já abriga sementes desta nova onda a partir da instalação da alemã ThyssenKrupp, uma moderna fábrica de componentes automotivos. Na unidade de produção, todas as etapas da produção estão conectadas, mapeadas e monitoradas por sensores e a produção é realizada por robôs de alta precisão e grande flexibilidade.

Nesta perspectiva, outra preocupação reside no fato de que os impactos desta nova onda tecnológica não se sentirão somente no campo industrial – produtivo, mas também no modo e estilo de vida das pessoas. Ou seja, terão também impactos sociais. Por exemplo, cita-se o aumento do desemprego, uma vez que, face tal modernização, cada vez mais se necessitará de um volume menor de emprego, não só no setor industrial, mas também no de serviços!

No exemplo supramencionado, dados apontam que na fábrica da ThyssenKrupp de Poços de Caldas, são necessários apenas 60 funcionários para produzir meio milhão de peças. Por outro lado, outros empregos surgirão. E esta temática foi discutida em Seul, em evento que participei pela OIT-ONU, intitulado: “Innovative ecosystems for public policies: A contribution to the future of work”.

Estamos tentando, nesse sentido, detectar os potenciais empregos que surgirão, no sentido de se pensar mecanismos para preparar a mão de obra do novo milênio. Também discutimos na Coreia do Sul e no Canadá formas e possibilidades desta nova onda tecnológica, de fato, atuar no sentido de melhorar a vida do cidadão em seus territórios. Por exemplo, impactando na iluminação pública através da troca de luminárias das cidades por led, com sensores para dimerizar o volume de luz necessária, avisar problemas, economizar quando possível etc.

Ou no campo da saúde e da educação. São novos tempos e as grandes questões que se colocam, para além de entender os aspectos tecnológicos, circundam na reflexão de como usaremos tudo isso. Em outros termos, será que todo esse colossal avanço tecnológico será capaz de enfrentar as demandas do novo milênio, em termos econômico, social, político e ambiental?

* Leandro Morais é professor doutor de Economia da UNESP Araraquara e Consultor da OIT-ONU. E-mail: lpmorais@gmail.com