Indisciplina em três instâncias

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Quando se pensa na educação como processo de desenvolvimento humano e direito social é imprescindível levar em consideração o papel do Estado e da família e, não sem razão isso é posto na Constituição Federal de 1988, cada qual desempenhando ações específicas.

Portanto, o problema da indisciplina escolar, também não pode ser tratado de maneira isolada, até porque, se há efeitos dela na escola, tal como baixo desempenho ou maiores as chances de evasão, há também consequências sociais da indisciplina na sociedade, como violência no trânsito, descumprimento de leis ou mesmo a dificuldade do sujeito se organizar para cumprimento de seus próprios projetos.

Mas, de que maneira a indisciplina pode ser minimizada? Quais seriam as causas sociais, econômicas e pedagógicas que contribuem para seu crescimento?

Avaliando essa articulação entre governo, família e escola, pretende-se sinalizar alguns pontos sobre essas questões. Em relação ao governo, ele opera com políticas públicas, sejam elas de caráter preventivo ou reparativo, articulando várias pastas ministeriais num entendimento de que problemas complexos exigem respostas também complexas. Assim sendo, é preciso divulgar através das secretarias de comunicação, conceitos importantes, como indisciplina, incivilidade, violência, bullying, de modo que a sociedade se organize para uma cultura da paz.

Além disso, as comunidades devem ser providas com aparelhos públicos voltados ao lazer, saúde, saneamento básico, segurança e políticas de distribuição de renda de modo que os estudantes não vejam a figura do professor como uma das únicas imagens de um Estado que se fez ausente e, portanto, sem credibilidade nenhuma.

Dentro ainda do papel do governo, mais diretamente relacionado a escola está a necessidade de diminuição de alunos por turma, afinal, turmas numerosas dificultam a interação de maior vínculo entre professores e alunos, abrindo espaço para a indisciplina e o desgaste das relações.

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Na esfera familiar, é salutar que se reveja as relações entre os adultos e os filhos, evitando-se o autoritarismo parental, sem, contudo, cair no extremo da chamada Síndrome do Pequeno Imperador, na qual adolescentes e crianças ditam normas e formas de convivência.

Acompanhar, mas deixando que a criança faça; aconselhar, porém, tendo a capacidade de também ouvir; negociar regras e juntamente mostrar o sentido de existirem… isso tudo para fomentar a autonomia do sujeito, sua própria organização, numa postura de compromisso para além do instantaneísmo e superando a perspectiva egocêntrica.

Por fim, e não menos importante, há o papel da escola que pode se valer das reuniões pedagógicas e discutir o assunto da indisciplina sob vários ângulos, sejam eles, antropológicos, históricos, políticos, etc.

Nesse sentido, esses encontros podem contribuir na percepção de que a escola do presente não será igual a do passado, que as relações mudam, que é fundamental o respeito à diversidade, pois truculências serão recebidas com desafetos.

Além do mais, entender que um bom planejamento das aulas pode minimizar situações de desordem e consequentemente a indisciplina, e daí, a escola conseguirá cumprir seu papel no desenvolvimento dos sujeitos sem abrir mão do acesso aos objetos de conhecimento.

* Ana Paula Ferreira é mestre em Educação. E-mail: anapaulakarenina@yahoo.com.br