Gutenberg pra sempre
Quando comecei a fazer jornalismo, o que mais queria era ter meu nome impresso num jornal.
Isso aconteceu em meados dos anos 1990 mesmo, quando um professor meu na Unesp, Pedro Celso Campos, publicou uma crítica que escrevi do livro O Dia do Chacal, de Frederick Forsyth, no jornal de propriedade dele, que circulava na pequena cidade paulista de Penápolis.
Ele levou exemplares destas edições para nós, mas, bestamente, não guardei um exemplar para mim. Isso foi em 1996, salvo engano. Tive ao menos um leitor que me elogiou: um colega de sala chamado Carlos. Apesar de ser da vizinha Pinhal, não éramos chegados, então creio que foi um elogio sincero; ele comentou inclusive detalhes do artigo e se interessou por ler o livro.
Formado, trabalhei em assessorias de imprensa, o que raramente fez com que meu nome saísse em algum jornal assinando algo (mas aconteceu, uma entrevista com o escritor Ignácio de Loyola Brandão) ou em rádio, que foi uma péssima experiência. A tacanha e provinciana rádio oficial local foi um algo extremamente brochante para quem aprendeu tudo numa rádio universitária que valorizava a inteligência, a informação e a cultura.
Nos anos 2000 havia os e-zines Kaos e Choose Your Side, já fora do ar, completamente extintos, quase sem traços nem no Wayback Machine, o museu da internet. Nada do que escrevi para eles foi salvo neste arquivo online – nem nos meus, está quase tudo perdido para sempre em disquetes corrompidos ou quebrados, de qualquer forma praticamente inacessíveis, com exceção de uns poucos textos; ao menos tive a satisfação de escrever textos assinados para ambos num tempo bastante desestimulante para mim.
Este material ter desaparecido me leva a uma conclusão: como diz minha amiga Renata Chan, papel é uma tecnologia muito mais confiável. Pena que quando finalmente trabalhei num jornal grande não me deixavam assinar as reportagens.
Quem trabalhou em grandes jornais conhece bem o ambiente tóxico e a estrutura verticalizada. Pensando bem, ainda bem que nunca assinei nada; os editores faziam atrocidades com os textos e principalmente com os títulos. Metem a mão no texto sem dó, em geral fica péssimo; nem quando emplaquei manchete de primeira página fiquei satisfeito. Enfim, já falei muito a respeito.
Assinei um contrato de confidencialidade, não posso falar qual jornal, mas caso alguém esteja cursando jornalismo, fica aí um toque como o bicho pega no duro – preparem-se para apurar cinco, seis ou até mais pautas complexas num dia só e ver seu texto padronizado. Depois de cursar pós em Jornalismo Literário não tem como não achar esses padrões patéticos, mas boa sorte aí pra vocês.
Também emplaquei reportagens em revistas especializadas de rock, meu sonho ao estilo do filme Quase Famosos. A diagramação estragou a leitura, mas pelo menos a edição de texto era ótima. Só me encontrei aqui no Jornal da Cidade há uns quatro anos, onde pude publicar meus contos e crônicas à vontade, graças ao João Gabriel, sem nenhuma interferência que não fosse para corrigir algum errinho.
Mas esta é a última edição impressa. Tudo bem, são outros tempos. Só que voltarei ao início, a 1996: vou privilegiar a resenha de livros daqui em diante nas vindouras edições eletrônicas, até porque já fiz algumas aqui. Sabem como é, sou uma criatura do século passado, queira ou não. Eu gosto é de papel, mesmo que amarele e fique malcheiroso.
* Daniel Souza Luz é escritor, jornalista, revisor e professor. E-mail: danielsouzaluz@gmail.com