Garotas pegam o ritmo
O jornalista Daniel Souza Luz escreve o conto Garotas pegam o ritmo. O título é inspirado numa música do AC/DC dos tempos do vocalista original, Bon Scott.
Uma visão embaçada: sua mão envelhece junto à de alguém em um baile de debutantes. Determinada a encontrar um único amor que a acompanhe por toda a vida, ela recorre aos conselhos de uma auto-denominada cigana – uma hippie suja rodeada por cabeludos imundos.
Envolvente, a mulher convence a garota, imbuída de ideais românticos, a organizar um baile de debutantes temporão – ela iria fazer 16 anos. Sem problemas; os pais bancaram tudo, da festa na qual deveria aparecer o predestinado à alegria da “cigana”, que também tem o dom de desaparecer sem deixar rastros e rastas.
O baile começa pontualmente no dia marcado. A banda contratada para tocar Evanescence e Paramore tem até uma vocalista que lembrava simultaneamente ambas as homenageadas e também a “debutante”. Todos os bicões são bem-vindos; a escola em peso comparece. Um deles havia de ser.
Tudo corre bem, mas só o galã de novela contratado especialmente para a valsa de abertura dança com ela. Fora isso, nem sequer o pai. Ninguém chega junto. Então ela sai à caça do amor eterno. Todos pulando, alguns se beijando, ela observa, nada.
Até que ele a encara e ela vislumbra o inferno; em flashes de câmera lenta, uma alucinação bem acurada: primeira vez bruta e dolorosa, ciúmes doentios, traída mesmo no dia do casamento, espancada na frente dos filhos, entediada dentro de casa e agonizando sozinha. Ela se vira horrorizada e topa com uma ruiva sorridente. Dançam juntas. Não é o que esperava. Não há nenhuma visão, mas sim certeza. Da parte de ambas. Melhor assim.
* Daniel Souza Luz é jornalista e revisor. E-mail: danielsouzaluz@gmail.com
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