Excesso de exercício faz mal ao corpo, aponta pesquisa

As práticas foram realizadas com corridas no plano, na subida e na descida por oito semanas

É consenso geral que praticar atividade física é uma ação benéfica para o organismo, pois proporciona bem-estar e melhoria na respiração, previne doenças cardiovasculares, fortalece o sistema imunológico, entre outros inúmeros benefícios.

Porém, quando acontece o excesso de exercício, o efeito é o contrário: os órgãos ficam sobrecarregados, causando resultados negativos no corpo. É o que detalha uma pesquisa feita por cientistas das universidades estaduais de São Paulo (USP) e Campinas (Unicamp).

Eles estudam há uma década os efeitos dos exercícios excessivos para os órgãos vitais do corpo humano, como coração, fígado e rins.

continua depois da publicidade

A pesquisa foi divulgada no periódico internacional Cytokine, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

O levantamento, que foi feito com camundongos, mostrou que certas alterações – prejudiciais – acontecem no corpo humano quando atividades físicas muito intensas são praticadas. As práticas foram realizadas com corridas no plano, na subida e na descida por oito semanas.

Segundo os pesquisadores, o resultado foi decisivo: praticar exercícios em excesso, sem descanso e recuperação, traz efeitos negativos.

“Vivemos uma realidade em que a atividade física é restrita à aparência, poucos realmente a tratam como modelo de saúde e aí é onde podemos começar a traçar as formas menos adequadas. A procura pela suposta perfeição também pode levar ao uso de substâncias exógenas que podem causar problemas renais e hepáticos ao longo do tempo”, explica Nemer Tarraf, cardiologista e professor da Faculdade Tiradentes (Fits), em Pernambuco.

Os pesquisadores analisaram a descida: os músculos tiveram mais dificuldade em captar a glicose no sangue – que dá energia ao organismo -, e os camundongos tiveram atrofia e má formação de proteína no interior da célula. O fígado, então, começou a agir na captação, sobrecarregando-o e gerando, como consequência, inflamações e gordura no órgão.

O coração também teve seu papel na captação da glicose, acumulando a substância nos seus tecidos. Como resultado, após as oito semanas de testes, o órgão apresentou fibrose – endurecimento do tecido – no ventrículo esquerdo e inflamações.

“A atividade física deve estar intimamente ligada à percepção do indivíduo perante o conhecimento de seu corpo, seja em relação às suas limitações ou nos seus objetivos. Nossa prevalência de sedentários é elevada no Brasil, mesmo se levarmos em consideração as novas diretrizes da OMS quanto a quantidade de tempo e intensidade do exercício, ainda assim, existe uma parcela pequena de pessoas que procuram seus limites durante o esforço”, explica Nemer.

continua depois da publicidade

Recomendações
O indicado e recomendado pelos profissionais de saúde sempre será fazer atividades físicas, de acordo com a saúde e histórico de cada pessoa, mas de forma personalizada e com cuidado. O ideal é ter um período de descanso, para que os órgãos possam se recuperar adequadamente – o intervalo de repouso para atletas ou amadores costuma variar entre 24 a 48 horas.

Observar a carga, tipo e a séries de treino também é necessário, para fazer a adaptação do organismo, e, se necessário, trocar a abordagem. E claro, sempre fazer exercícios com a supervisão de um profissional de educação física, para evitar acidentes e outras complicações.

“No esporte que vislumbra a manutenção da saúde deve ter frequência e intensidade supervisionadas, não extrapolar a capacidade física do indivíduo e manter uma constância. A musculação deve fazer parte do preparo aeróbico, não apenas como garantia de saúde e vitalidade, mas também como fator conhecido na diminuição de lesões articulares”, salientou Nemer.

O cardiologista ainda explica que o descanso traz resultados de forma consciente e saudável.

“A reabilitação traz planejamento e qualifica os objetivos, através de segmentos prospectivos, atuando de forma direta na redução de mortalidade em certos perfis de risco. O cenário ideal é realizar avaliações pré-participação em cardiologistas e ortopedistas, a fim de entender a sua real necessidade e estabelecer as suas indicações e limitações”, finalizou.