Estado não explica motivo para fechar BDMG Cultural
Representantes do governo não responderam a questionamento de deputados e agentes contrários à medida
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Servidores do BDMG Cultural, produtores, artistas e agentes do setor continuam sem respostas sobre as motivações do governo estadual para dissolver a instituição e transferir suas ações para a Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop).
Em audiência pública realizada nesta quinta-feira, 9, pela Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), representantes do Estado e da fundação não responderam os questionamentos apresentados durante a reunião.
A secretária-adjunta de Estado de Cultura e Turismo, Josiane Míriam de Souza, se limitou a assegurar que todos os projetos e ações do BDMG serão mantidos, este ano, com recursos do próprio Banco de Desenvolvimento.
“Para a expansão das ações, temos que fazer um exercício para ver como será”, afirmou. Segundo ela, um dos objetivos da transferência seria dar mais capilaridade ao atendimento cultural atualmente realizado pela instituição.
Jefferson da Fonseca Coutinho, presidente da Faop e nomeado como liquidante da autarquia, admitiu que ainda não conseguiu ouvir todos os servidores e nem ter acesso a todas as informações sobre a instituição.
Ele não explicou à deputada Lohanna (PV) o conteúdo do cronograma da dissolução, que ele deveria apresentar nesta sexta-feira, 10.
Lohanna sugeriu estratégias para fazer frente a ameaça de encerramento do BDMG Cultural. A primeira delas seria impetrar um mandado de segurança, por meio de entidades que representam os funcionários, já que está caracterizado uma violação imediata de direito visando suspender o encerramento até que o BDMG, e por tabela o Executivo, apresente as análises em que se basearam a decisão de dissolução.
A outra seria denunciar o caso e pedir providências ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG). Também foram aprovados requerimentos para que BDMG e Executivo se expliquem melhor sobre o episódio, entre outras providências.
O deputado Doutor Jean Freire, também contrário ao fechamento da instituição, sugeriu mobilização e pressão da classe cultural para evitar a medida.
“Precisamos de vocês além do ambiente de trabalho. Temos que ocupar odos os espaços, em peça, show. A população precisa entender a importância da cultura”, disse.
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Processo de decisão do fechamento é rechaçado
A decisão do fechamento do BDMG Cultural foi anunciada no último dia 3 e, segundo a deputada Lohanna, sem a consulta e anuência da Associação dos Servidores do instituto.
Conforme explicou a representante do Conselho Estadual de Política Cultural (Consec), Marcela de Queiroz Bertelli, a instituição é uma associação que tem como sócios e fundadores o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e a Associação dos Funcionários do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (AFBDMG), que, em sua opinião, deveriam ter votos com o mesmo peso na decisão.
Marcela Bertelli afirmou que o estatuto prevê que a dissolução e destinação dos recursos e patrimônios têm que ser definidas por consenso entre as duas entidades. “Ficamos estarrecidos mais ainda pela forma violenta do processo de dissolução”, reclamou.
Segundo Jefferson Coutinho, o fechamento foi decidido pelo conselho do banco. Ele também reafirmou a manutenção dos programas atuais e disse que o cronograma será realizado “com muita calma, responsabilidade e respeito”.
A deputada Lohanna voltou a questionar o presidente da Faop de como ele apresentará o cronograma, se admite não saber o motivo da dissolução, se houve algum estudo para isso, a destinação dos servidores e nem de o porquê a associação dos funcionários não foi ouvida e nem considerada no processo. “A gente tá mexendo com vidas, com a história de Minas Gerais”, advertiu.
O músico Leandro César da Silva e o secretário-geral do Sindicato dos Bancários de BH e Região, Rogério Tavares de Almeida, que também é ator e produtor cultural, afirmaram que servidores do instituto têm denunciado assédios morais e pressão. “Servidores estão com medo de retaliação, de perder cargo”, disse Leandro. “Eles são contra a dissolução e principalmente da forma como está sendo conduzida com truculência”, completou Rogério.
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Participantes especulam motivações
O fim do BDMG Cultural foi criticado por todos que participaram da audiência pública. A deputada Macaé Evaristo (PT) se indignou com o anúncio.
“Corrobora a visão que temos do governo que se aproxima de ideários conservadores, fascistas, do Estado neoliberal que tem zero compromisso com o conjunto da população. Tem medo que a população tenha acesso à educação e cultura”, considerou.
A deputada Bella Gonçalves definiu o fim do BDMG Cultural como mais do que um ataque à cultura, também um ataque à própria instituição bancária e sua vocação para impulsionar o desenvolvimento do Estado.
“Mas o que esperar de um governo que tem um projeto de destruição total das nossas matas, das nossas serras e também da nossa cultura”, definiu. A parlamentar criticou ainda o uso do banco como “cabide” de emprego, citando por exemplo que lá foi o destino do ex-secretário de Estado de Governo, Igor Eto.
A vereadora de Belo Horizonte Cida Falabella (Psol), que também criticou a falta de transparência no processo de decisão do fechamento, disse que o governador Romeu Zema tem rebaixado a cultura no Estado. “A cultura é um setor estratégico, mas Zema não tem essa dimensão. Cultura é investimento, cidadania, bem-viver, saúde”, defendeu.
Diversas pessoas que acompanharam a audiência também se pronunciaram contrariamente à medida, entre elas Marcos Tadeu, funcionário do BDMG, no qual já atuou como diretor administrativo.
“O BDMG Cultural é significativo na estratégia de atuação do banco. Em 2023, somente ele trouxe R$ 6 milhões, de mídia espontânea, enquanto o orçamento publicitário é de R$ 5 milhões”, destacou.