Esquadrão Suicida não entrega o que promete

Filme é um dos mais aguardados de 2016

Avaliação do Editor

5.0
avaliação 5.0

O crítico de cinema Marcelo Leme comenta sobre um dos filmes mais aguardados do ano: Esquadrão Suicida. Para ele, o filme tinha tudo para dar certo, mas não foi o que aconteceu.

Acho desnecessário comentar sobre a ideia de trazer reconhecidos vilões como protagonistas. Isso vem acontecendo há algum tempo, até mesmo nas animações.

Na verdade, se buscarmos lá na década de 40 ou 50, com os noirs; ou ir mais longe, lá na década de 20, com o expressionismo, encontraremos os naturais antagonistas protagonizando as produções. Atualmente há quem chame de moda, mas a verdade é que trata-se de uma vertente interessante a ser explorada.

Ao menos tem dado certo comercialmente. Pergunte a um ator: você prefere viver o mocinho ou o vilão? A resposta da maioria não será surpreendente. Sabendo dessa vertente e ciente do potencial que tem em mãos, a DC e a Warner decidiram investir no Esquadrão Suicida. Entre os vilões está o Coringa, um dos mais icônicos personagens dos quadrinhos que ganhou brilhantes intérpretes no cinema. Além dele, outros ótimos personagens fazem parte do grupo.

Margot Robbie entrega uma ótima e apaixonante Harley Quinn
Margot Robbie entrega uma ótima e apaixonante Harley Quinn

Os trailers divertidos com hits do rock elevavam as expectativas às alturas. Parece que não tinha como dar errado. Deu! Esquadrão Suicida começa mal e termina ainda pior. Termina sendo constrangedor. Parte do desastre do roteiro deve-se ao insucesso de Batman vs Superman: A Origem da Justiça, outro equívoco de 2016.

Um dos raros bons momentos daquele filme que reuniu os dois mais importantes heróis dos quadrinhos foi a presença de Ben Affleck com seu Bruce Wayne. Então ele precisava dar as caras em Esquadrão Suicida. As cenas iniciais o trazem, relacionado-o a dois dos principais personagens do esquadrão.

Cinco minutos depois, os mesmos dois personagens são novamente apresentados ao público junto aos outros. Uma bagunça no roteiro remendado que se apropria de incontáveis e deslocadas canções para dar um clima mais nostálgico e descolado ao filme. Os 20 primeiros minutos são reservados a breves apresentações de cada um de maneira puramente expositiva.

Ninguém ganha qualquer profundidade, apenas surgem esquemáticos em esquetes pops e tendenciosamente cômicas. O desenrolar é óbvio demais. Uma agência secreta do governo oferece pena reduzida a um grupo de meta-humanos condenados. Estes são designados a perigosas missões. Argumento bom que padece na trama. Não é um filme inteligente e tampouco inovador. Talvez até fosse antes de Batman vs Superman ser massacrado pela crítica e boa parte do público.

Com refilmagens e revisões do roteiro, temendo o mesmo fim da obra de Zack Snyder, Esquadrão Suicida foi alterado mesmo após pronto e certamente perdeu muito, inclusive sua razão de ser. Algumas situações são inexplicáveis e grandes atores envolvidos nada puderam fazer por elas.

O roteiro desenvolve-se sobre algumas boas piadas e cenas de ação questionáveis. Chega a um ponto que quase se transforma em Os Caça-Fantasmas de 1984. Ao menos este prezava por alguma originalidade. E para coroar o caos, alguns dos diálogos mais embaraçosos dos últimos tempos se somam nos minutos finais, algo similar ao “não abandonarei meus amigos” é cuspido em cena sem pestanejar.

O que resta, então? Atores comprometidos com seus personagens, que dão dignidade suficiente a eles. Will Smith, por exemplo, entrega um Pistoleiro competente, ainda que a rápida construção de seu passado junto sua filha – com flashbacks cafonas e piegas – arrebentem com o próprio.

Melodrama excessivo e demasiado mastigado. Já Margot Robbie, um sucesso viral já nos trailers, entrega uma ótima e apaixonante Harley Quinn. Ela rouba as atenções com suas ótimas tiradas. Uma pena é ter uma ou duas cenas injustificáveis cujas piadas e gags apenas sabotam o ritmo arquitetado de toda a narrativa. Menos é mais! Já sabemos.

Viola Davis é monumental como Amanda Waller e Jared Leto é uma lamentável frustração com seu aguardado Coringa. E entenda, para tal veredicto, não peso comparações com os coringas anteriores, ainda que Leto sugue o de Ledger.

* Marcelo Leme é psicólogo e crítico de cinema, escreve sobre cinema às quartas e finais de semana. E-mail: marceloafleme@gmail.com