Entrevista: Silas Lafaiete
O radialista Silas Lafaiete concedeu uma entrevista à revista digital One Weekend, que o Jornal da Cidade reproduz a seguir. Neste bate-papo com o jornalista Rodrigo Costa, Silas Lafaiete fala sobre sua paixão pelo rádio, relembra momentos marcantes da carreira e, claro, comenta sobre o cenário político da cidade.
Como você define sua relação com o rádio?
Silas Lafaiete – Minha relação com o rádio começou quando eu tinha entre 11 e 12 anos. Houve uma enchente em Porto Alegre. Na época, uma rádio fez uma campanha de arrecadação. Eu era um garoto, nunca havia entrado em um estúdio. Fui levar as doações da minha família que tinha hotel em Poços de Caldas. Nesse dia, acabei ficando por lá para ajudar. Foi quando começou a minha paixão, a minha relação com o rádio. Na época, havia um homem chamado Lázaro Walter Alvise que me perguntou se eu não queria ajudar como “puxador de fio” nas transmissões de futebol e foi dessa forma que tudo começou. Uma relação de sangue, eu diria. É muito amor e muito sangue. Eu costumo brincar e dizer para as pessoas que eu não sou jornalista. Eu sou radialista. A paixão pelo rádio é maior do que tudo.
Quais momentos da sua carreira que você considera marcantes e que tenha presenciado?
Silas Lafaiete – Além de finais dos campeonatos estaduais de futebol, do Campeonato Brasileiro e da Libertadores da América, vários outros momentos eu presenciei como radialista e que marcaram a minha vida. Um deles, que me emocionou muito e que nunca irei esquecer, foi o domingo do dia 1º de maio de 1994 quando morreu Ayrton Senna. Naquela semana, na segunda-feira, nós tínhamos um programa de rádio no estilo mesa redonda, um debate, em que Demilton Vacarelli e eu éramos sócios e apresentadores. Eu não sei escrever, eu sei falar. Mas fiz de coração um texto, uma homenagem, com trechos de entrevistas do Ayrton. Divulguei, na segunda-feira à noite, na Rádio Cultura, após a sua morte. Naquela mesma semana eu recebi uma ligação da Viviane Senna, irmã do Ayrton, que havia recebido informações, através de outros colegas de rádio de São Paulo com os quais eu tinha muita amizade, que haviam gravado uma homenagem e material chegou até ela. Isso marcou muito a minha vida. Eu jamais esperava. Isso foi registrado e vai ficar registrado para sempre na minha memória e no meu coração. Outro momento marcante foi quando o Osmar Santos sofreu o acidente de carro. À época, ele era um grande narrador da Rádio Globo. Eu estava em São Paulo naquele dia e passei a noite no hospital. Eu, sua esposa Rosa e o irmão dele Oscar Ulisses. Ficamos juntos a madrugada inteira enquanto o Osmar Santos estava sendo operado. Conversamos sobre a vida e sobre o rádio. Eu sempre tive uma amizade muito grande com o Osmar Santos e o Oscar Ulisses. Esses são os dois fatos que me marcaram de forma feliz e de forma triste no rádio.
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Na sua visão, as rádios web, de certa forma, contribuem hoje para a democratização da informação?
Silas Lafaiete – Sim, o rádio hoje, principalmente a rádio web, chegou para democratizar a informação. Para levar a informação a todos os lugares e atingir todos os públicos. O que no passado havia de dificuldade, com horários pouco flexíveis, a web facilitou. Se antes alguém tinha que parar o trabalho, por exemplo, para acompanhar um programa sobre política, hoje, não há mais necessidade disso. Agora podemos ter nossas atividades durante o dia e à noite escolher o que ouvir ou assistir. Pode ouvir por trechos ou por partes. A web democratizou muito a informação. O risco que existe hoje é que o que mais tem por aí são muitas fontes ruins de informação. Mas o rádio na web democratizou demais a informação.
Você acredita que as redes sociais terão papel importante nas eleições deste ano? Ou o contato do candidato com o eleitor ainda é importante?
Silas Lafaiete – Eu acredito que as redes sociais terão um papel importante nas eleições. Daqui para frente, sempre. Sem exceção. O que vemos hoje são algumas pessoas com Facebook, outros com Instagram, outros com Twitter, outros com Tik Tok, ou seja, cada uma dessas pessoas com a ferramenta que gosta e segue. O que eu acho que falta é uma agência reguladora. Como temos para a energia elétrica e para a água, nós precisamos ter para a comunicação. E por qual motivo? O candidato rico ou aquele empresário que tenha interesse em certo candidato, por exemplo, com certeza irá investir em empresas especializadas em criar perfis falsos para alavancar a postagem do seu candidato. Esse é o meu receio em relação às redes sociais, política e eleições. Por isso a necessidade de uma agência reguladora. O que a gente vê de perfil falso em rede social com agressões ou elogios é muito grande. Esse é o perigo. As redes sociais têm um papel fundamental nas eleições sim. Ela atinge o eleitor em todos os horários, em qualquer tempo. O tempo todo o eleitor consegue ter informações sobre os candidatos e seus projetos. Mesmo assim o candidato precisa visitar as comunidades. Paras as eleições deste ano essas visitas são importantes. O contato com o povo não pode ser desfeito, não pode ser desligado. Primeiro, para mostrar para a população que você existe e pro povo ver que você é real. Segundo, para olhar no olho do eleitor e passar a confiança e a segurança naquele que ele irá votar. Isso não pode acabar nunca.
Você já teve entrevistado que reclamou de perguntas feitas no ar?
Silas Lafaiete – Vários! Na minha vida inteira. Eu sempre fui um repórter um pouco mais polêmico. Eu tenho pessoas que até hoje vão ao meu programa e que antes de entrar no ar eu pergunto se tem algum assunto que não possa ser abordado. Mas as reclamações nesse sentido são comuns e acontecem frequentemente. Às vezes, o entrevistado fica vermelho ou roxo de raiva. Enfim, algo muito comum. A nossa função é perguntar. Obviamente existem maneiras de se perguntar, de se abordar determinado assunto. Muitos, não todos, claro, não saem satisfeitos com as perguntas.
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Quem acompanha seu programa percebe que em algumas ocasiões, a entrevista com integrantes da equipe de governo da Prefeitura não desenvolve. Você acha que é medo de falar bobagem ou falta mais conhecimento sobe os assuntos debatidos?
Silas Lafaiete – Eu procuro levar todos os membros do atual governo. Todos os secretários. Eu sempre abri espaço, independentemente da minha posição, do meu senso crítico, eu sempre abro o espaço para a pessoa dar a versão dela. Mas eu percebo, quando uma entrevista é um pouco polêmica, quando jogo lenha na fogueira, que eles ficam com muito receio de responder com medo de falar besteira. Eles sabem que nosso veículo de comunicação é sério e sabem a responsabilidade de falar algo pois também sabem quem está ouvindo. Às vezes, eles preferem responder com um simples “sim”, “não” ou “talvez” justamente por medo de falar bobagem. Mas a gente percebe também que alguns secretários do governo são completamente desinformados sobre a sua pasta. Eles estão ali preenchendo um espaço. Isso é o que vejo em alguns cargos.
Como você se define politicamente?
Silas Lafaiete – Eu não sei dizer ao certo. Eu sou um pouco socialista por alguns motivos. Hoje, muita gente vem atrás da gente pelo WhatsaApp ou mesmo através da rádio pedindo ajuda para internação, cirurgia, remédios e eu sempre encaminho essas demandas ao Executivo e aos secretários. Eu tento ajudar as pessoas de alguma forma. Não sei que lado político seria esse, não tenho pretensão e nem quero ou pretendo ser candidato a absolutamente nada. Por isso digo que sou um pouco socialista.
Como você avalia o cenário político de Poços de Caldas para este ano com as pré-candidaturas que se apresentam até o momento?
Silas Lafaiete – Nós estamos vivendo um cenário perigoso com algo em torno de 10 nomes para deputado estadual e federal. Isso é muito arriscado para uma cidade do porte de Poços de Caldas. Existe alguma pesquisa pra saber se as pessoas vão votar esse ano? Eu queria que algum partido apresentasse algo nesse sentido. Esse é o primeiro item. Segundo ponto, repito, 10 candidatos? Nós corremos o risco, seriamente, de não termos um deputado estadual ou federal. Nós vamos passar dificuldades. A cidade vai ter que ficar passando pires para os governo estadual e federal, vivendo de migalhas. Enquanto isso, Extrema e Pouso Alegre crescem assustadoramente com deputados de outras cidades indo buscar apoio para essas cidades. Nós perdemos a nossa notoriedade. Perdemos a importância política que sempre tivemos. Nós não figuramos mais como uma cidade importante no cenário político. Nos últimos anos não tivemos a visita de ministros no período em que os últimos três prefeitos governaram. O atual governo demora na definição dos pré-candidatos. Demora para colocá-los na linha de frente, para que a população possa fazer uma análise. Você pergunta para as pessoas na rua, elas não sabem em quem votar, ainda não sabem quem são os candidatos. O mesmo vale para a oposição. Quem eles pretendem lançar? Não sabemos! O único que sabemos que é candidatos, que é de Poços mas que transferiu seu título para Belo Horizonte é o Mauro Tramonte.