Entrevista: José Carlos Polli
José Carlos Polli fala de sua atuação como jornalista político em Poços de Caldas
A classe política de Poços de Caldas segue um ritual todos os dias: o de logo pela manhã acessar o blog do jornalista José Carlos Polli para saber quais as principais novidades dos bastidores na cidade.
Não é incomum prints de WhatsApp com as tradicionais notinhas do jornalista se espalharem rapidamente pelos grupos de situação, oposição ou simplesmente dos aficionados pela política local.
Nesta entrevista para a revista digital One Weekend, que o Jornal da Cidade reproduz a seguir, ele fala sobre sua carreira, sobre a transformação do jornalismo e, claro, sobre política.
Olhando pra trás, como você avalia a sua trajetória como jornalista?
Polli – Minha origem na realidade é no ramo gráfico, acabei abraçando o jornalismo aqui em Poços de Caldas, até por necessidade, quando trabalhava no Jornal da Mantiqueira e comecei fazendo cobertura policial. Olhando para trás, acho que fui além do que esperava, depois de colaborar na criação do Jornal da Mantiqueira me tornei um dos seus proprietários, depois fundei o Jornal da Cidade, Jornal dos Negócios, Jornal de Poços, TV Poços, TV Plan, além de ter atuado em outras iniciativas da imprensa local como Assessor de Imprensa em quatro administrações. Há 12 anos mantenho na internet a Rádio Polli e o Blog do Polli.
Como você vê a transformação da profissão de jornalista nos dias atuais?
Polli – Com a chegada da internet, muitos jornalistas e “jornalistas” acabaram por aderir a mídia digital. A internet mudou completamente as coisas, é verdade que democratizou ainda mais a imprensa, mas também é verdade que ela serve hoje para o bem e para o mal. Vemos o mercado de comunicação de Poços de Caldas cada vez mais complicado para veteranos e novos profissionais.
Qual a sua avaliação dos veículos da cidade?
Polli – Não é só em Poços e sim em todo lugar, na verdade os veículos tradicionais de comunicação perderam espaço para a mídia digital e com isso o faturamento foi pulverizado. Faz parte da evolução, eu passei por várias, quando comecei os jornais ainda eram composto à mão, tipograficamente, depois veio a revolução com a invenção do linotipo e a seguir a off-sett, agora estamos na revolução digital, quem não acompanhar a evolução ficará para trás, na verdade hoje a rádio se transformou em rádio, TV e jornal, a TV a mesma coisa e assim acontece também com os jornais impressos.
Nos últimos anos você soube muito bem migrar do impresso para o digital. Como se deu esse processo?
Polli – Quando percebi que o jornal impresso, o rádio e a TV estava perdendo espaço para a internet fui um dos primeiros a criar uma rádio web e como a internet em Poços na época era muito ruim, a rádio até hoje permanece com estúdio em Jundiaí. Logo depois no site da rádio criei o blog. Hoje, o Blog do Polli é o principal veículo político da cidade.
continua depois da publicidade
Como se configura a sua rotina desde a apuração das informações até as notas e notícias serem publicadas?
Polli – Com a diversificação da mídia, o mais importante hoje é o conteúdo. Se você não tiver conteúdo, falando o que as pessoas querem ouvir, mostrando o que elas querem ver e escrevendo o que querem ler, você não terá audiência e nem leitores. O conteúdo é o segredo do sucesso.
Quais são os prazeres e as dores de ser um jornalista político na cidade?
Polli – A gente aprende e tem uma coisa que não se compra em farmácia nem no supermercado. Chama-se credibilidade. Graças a Deus as pessoas confiam no meu trabalho, de uma carreira construída ao longo de 40 anos como jornalista, devidamente registrado com MTB e tudo mais, o que não quer dizer muita coisa. Tem muitos jornalistas por aí, aliás, a maior parte formada em faculdade que só sabe usar o gravador e transcrever as falas entre aspas. Difícil é sentar na frente do computador, sem nada e escrever um artigo, uma análise de um fato. A maioria dos repórteres hoje sai da redação com a pauta feita, as perguntas prontas e com isso não exercita o improviso.
Desde o ano passado você afirma que “Poços de Caldas precisa ser discutida com seriedade”. Isso ainda falta?
Polli – Entendo que sim. Eu vim de uma época em que tínhamos grandes políticos e pessoas altamente capacitadas no governo municipal. Trabalhei com Ronaldo Junqueira, Sebastião Navarro, Luiz Antonio Batista, Geraldo Thadeu e até mesmo com o Paulinho Courominas que estava indo bem, até achar que era poderoso e brigou com o grupo que o elegeu. Deu no que deu e foi aí que eu decidi abandonar o seu governo. Fui contra o rompimento.
Qual a sua avaliação da atual legislatura da Câmara?
Polli – Comparada com as últimas, acho que esta legislatura é muito melhor. Com vereadores
mais interessados, trabalhando mais, participando ativamente dos problemas da cidade.
Na sua visão, qual foi o pior prefeito de Poços de Caldas? E o melhor?
Polli – Difícil dizer quem foi o melhor e o pior, tudo depende do momento, da conjuntura política. Respondendo a pergunta anterior, eu fui a favor na gestão passada da criação de um grupo de ex-prefeitos e lideranças políticas, sem olhar o lado partidário para elaborar um projeto de governo que eu entendo ainda falta. De uma união de forças em benefício da cidade que possui inúmeros problemas que se arrastam há anos e ainda estão sem solução. Exemplos: Plano Diretor, Plano de Mobilidade, privatização dos pontos de passeio, que não anda; o monotrilho que é um equipamento de futuro indefinido; a falta de atenção com nossas águas termais que poderia voltar a ser uma grande atração turística, não como curativa, mas sim como uma ferramenta para aliviar o estresse, assim como um cuidado maior com todas as nossas atrações turísticas, os pontos de passeio hoje estão completamente abandonados e nem se fala mais na reconstrução da Casa de Chá do recanto Japonês. Para mim, que já fui secretário, o turismo em Poços está abandonado e quando tudo acabar será preciso inclusive reativar as nossas principais festas que foram abandonadas nesta gestão.
Qual a sua avaliação dos governos Sergio Azevedo (PSDB), Romeu Zema (Novo) e Jair Bolsonaro (sem partido)?
Polli – Já disse pessoalmente ao prefeito Sérgio que eu esperava muito mais do seu governo e ainda espero que neste seu segundo mandato ele consiga realizar tudo aquilo que prometeu que iria fazer na primeira gestão. Como ele foi reeleito democraticamente para uma segunda gestão, temos que respeitar a vontade dos eleitores, embora isso não seja motivo que impeçam as críticas. Tem muita coisa ainda por fazer; o Zema é aquele político arroz com feijão, não dá para esperar muita coisa dele, mas comparado ao Pimentel, sua gestão vai bem e o que é importante, até agora sem corrupção; Quanto ao Bolsonaro, faço parte da legião de eleitores desiludidos com sua atuação à frente do governo. Um desequilibrado que não respeita a liturgia do cargo. Seu comportamento nos envergonha. Espero que ainda possa surgir uma terceira via porque voltar com o Lula seria um retrocesso.
Qual o seu desejo para a Poços de Caldas das próximas gerações?
Polli – Como cidadão devidamente diplomado, minha esperança é de que a cidade reencontre o caminho do progresso, do desenvolvimento, recupere o protagonismo que sempre teve na região como a capital do sul de Minas, condição que perdeu nos últimos anos por culpa única e exclusiva das suas lideranças políticas.