Entrevista: Diney Lenon

Vereador fala dos desafios do seu primeiro mandato

Quando na noite do dia 15 de novembro de 2020, após horas de atraso na divulgação da apuração das eleições, os resultados foram disponibilizados, o então candidato a vereador Diney Lenon apareceu na telas dos computadores e celulares totalizando quase 2.000 votos, deixando estupefata boa parte da classe política de Poços de Caldas.

Superou velhas figuras dentro do seu próprio partido e se tornou a nova cara do PT na cidade. Nesta entrevista para a One Weekend, que o Jornal da Cidade reproduz abaixo, ele fala sobre os primeiros dias de governo, dos desafios na Câmara Municipal e sobre o legado do seu partido e também do presidente Lula.

Qual avaliação você faz dos seus primeiros meses de mandato na Câmara?
Diney – Tem sido um período de muito aprendizado. A gente vai se acostumando com os trâmites da Câmara e com os processos legislativos. Aos poucos, a gente entra no ritmo. Além disso, é um momento de muita empolgação, com uma grande expectativa da população. Tentamos atender a todos na medida do possível, dentro das atribuições do cargo. Mas eu avalio esse início de uma forma bastante positiva. Temos muitas proposituras registradas, indicações, moções e requerimentos. Tenho trabalhando na construção de projetos de lei e considero também que todos os projetos aprovados e benéficos para a população que tiverem meu voto também são parte desse trabalho em que a gente se posiciona. Tenho procurado levar para a Câmara a demanda das pessoas, a voz da população.

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Qual o seu maior desafio como vereador?
Diney – O maior desafio é o trabalho político que vai além da instituição, além da função, das atribuições constitucionais de um vereador. Trabalho político no sentido de trabalhar junto com a comunidade no sentido de representatividade. De que um vereador está ali para representar as pessoas. Esse é o desafio. Que as pessoas entendam isso, que elas participem, se apropriem do mandato e possam se sentir representadas.

Algum projeto em especial que pretende deixar como marca nesse mandato?
Diney – Eu gostaria de deixar como marca do mandato não um projeto específico. Mas minha atuação parlamentar. Os projetos de lei, muitas vezes que temos idéias e queremos apresentar, são projetos que outros vereadores fazem, são projetos que já estão em andamento, são coisas que a gente acaba contribuindo. Mas eu acho que a maior marca que podemos deixar de atuação parlamentar é o sentido da representatividade, de dar voz para as pessoas, participar dos debates, das discussões e contribuir em cada encaminhamento aprovado pela Câmara no sentido de que a gente possa se sentir parte daquilo.

É difícil ser oposição em Poços de Caldas?
Diney – A dificuldade de ser oposição muitas vezes está na compreensão do que as pessoas tem do que é ser oposição. A palavra oposição traz um peso, uma bagagem muito grande. Muitas pessoas acham que ser oposição é ser do contra. Na verdade, não é isso. Ser oposição significa ter um posicionamento diferente da situação. Ou seja, ter uma perspectiva diferente, uma visão diferente, idéias diferentes e não em tudo. Em muitos pontos a gente concorda. A maioria das minhas posições na Câmara são de concordância com vários temas apresentados. Mas enquanto oposição, nós estamos ali pra exercer a fiscalização com rigor e com as críticas construtivas necessárias. Quando somos minoria, e talvez a dificuldade seja essa, ser minoria, a gente acaba trabalhando com a mobilização popular, trazendo as pessoas para a discussão e dando o sentido de que uma voz ali dentro não representa apenas uma pessoa e sim milhares delas. Isso acaba fortalecendo o mandato.

Muito tem se falado em uma Frente Ampla contra Jair Bolsonaro para 2022. Há uma possibilidade de frente ampla na cidade para 2024?
Diney – Sim. Essa frente já tem sido trabalhada em Poços de Caldas. O PT, inclusive, faz parte desse grupo. Nós temos discutido ações conjuntas e também realizado ações conjuntas. No nosso entendimento essa Frente Ampla é à favor da democracia, da civilidade e dos valores republicanos que estão tão afetados ultimamente em virtude dessa liderança negativa que nós temos no país e que se materializa na figura do presidente Jair Bolsonaro.

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Em 2020, o PT não teve candidato para o Executivo. Muito se falou em questões internas que impossibilitaram a candidatura. Essas questões já foram resolvidas?
Diney – A dificuldade que nós temos para a construção de uma candidatura são dificuldades processuais. Muitas vezes elas não têm data de inicio e de término. São partes do processo. Eu acredito que para as próximas eleições nós teremos um partido muito mais fortalecido, com uma base popular muito mais consolidada e com condições de manter a tradição do PT na cidade de ter uma representação majoritária nas eleições para que a classe trabalhadora possa se sentir representada.

Pesquisas revelam que se as eleições fossem hoje, Lula seria eleito novamente Presidente da República. Na sua concepção, a opinião pública perdoou Lula, perdoou o PT ou perdoou ambos?
Diney – Eu penso que a opinião pública a cada dia está tomando conhecimento dos fatos. Hoje nós temos um Supremo Tribunal Federal que colocou em xeque todo um processo e que classificou o juiz Sergio Moro como parcial. A população tem entendido isso. Houve uma condenação de um ex-presidente e que deixou o cargo com 92% de aprovação. Lula deixou a presidência como uma grande liderança mundial e que foi retirada das eleições de 2018. Hoje está provado que o juiz que contribui para isso agiu de forma totalmente parcial. A população tem prestado atenção nisso. É uma luta de narrativas que a gente trava, mas que, graças a Deus, as pessoas estão entendendo o que aconteceu e, mais do que isso: elas estão se lembrando disso também por questões materiais. A qualidade de vida da população brasileira tem caído muito. Não há emprego como se tinha na época do Lula, não se come como se comia na época do Lula, não se viaja e não se tem acesso a bens de consumo como na época do Lula. Eu acredito que as pessoas estão relembrando como a gente tinha melhores condições de vida. Podemos dizer que o povo era mais feliz e hoje está se dando conta disso. Uma parte da população pelo menos. Essa conscientização tem tomado corpo e a materialização disso é o Lula liderando todas as pesquisas, inclusive, com possibilidade de vitoria já no primeiro turno.

Você sofre muitos ataques por ser de esquerda ou filiado ao PT?
Diney – Já sofremos mais. Hoje o que permanece um pouco são ataques de um segmento quase que fundamentalista, de um grupo de pessoas que se alinham ao governo federal, à pessoa, inclusive do presidente, que não tem valores republicanos e que não preza pelos valores democráticos. Mas não são ataques que enfraquecem a nossa militância, pelo contrário, nos fortalecem. Eu sinto um pouco de saudade, digamos assim, de quando a direita brasileira era uma direita mais civilizada. Hoje nós temos uma extrema-direita que foge de todos os padrões republicanos e democráticos. A gente espera que essa extrema direita continue perdendo espaço e que continue também perdendo a confiança da população, para que a direita responsável, a direita civilizada, a direita que tem um projeto diferente do nosso, possa assumir o protagonismo desse segmento, mas dentro de marcos democráticos. Então, esses ataques, sinceramente, não me afetam muito. A gente recebe muito mais apoio pelas posições que nós temos, pois são posições públicas, claras e as pessoas acabam se identificando.

Qual a sua avaliação sobre os governos do prefeito Sérgio Azevedo (PSDB), Romeu Zema (Novo) e Jair Bolsonaro (sem partido)?
Diney – O governo Bolsonaro é uma catástrofe. Não tenho outra palavra para dizer. É um governo que não tem uma marca positiva na área social, na educação e na saúde. Não tem uma marca positiva pra deixar como sua. Já o governo Zema sustentou o Bolsonarismo. Ajudou a criar esse monstro que nós temos hoje, ajudou a criar esse movimento fascista, Bolsonarista. Hoje está pulando fora do barco, mas nós sabemos da responsabilidade do atual Governador de Minas Gerais nesse processo histórico. É um governo que também não tem uma marca. Não tem algo pra chamar de seu de forma positiva, na vida cotidiana e capaz de ser sentido pelas pessoas. Já o governo do Prefeito Sergio Azevedo é um governo que segue a linha dessa direita. Que tem muitas falhas na gestão. Falta uma sensibilidade social, uma pegada mais de engajamento com a população, de escuta. De pertencimento junto aos trabalhadores. Mas isso também não era de se esperar de um governo assumidamente de direita. Sergio é uma pessoa por quem tenho muito respeito. Mas o governo que representa Poços hoje é um governo muito deficiente em áreas sociais eu acredito que a população também tem sentido isso.