Eleições municipais como etapa para lutar contra o fascismo: o cenário em Poços de Caldas
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As eleições municipais de 2024 serão fundamentais na luta contra o fascismo. Ao contrário do que afirma o senso comum, segundo o qual as demandas locais se sobrepõem nesse tipo de pleito, a disputa neste ano tende a ter um caráter nacionalizado e fortemente marcado pelo embate cultural e ideológico.
Isso ocorre pela centralidade que estas eleições têm na estratégia da extrema-direita brasileira que, em sua busca pelo poder, opera uma tática que consiste em ocupar todos os espaços possíveis, dentro e fora do aparelho do Estado, para fazer avançar seus valores e sua visão de mundo.
Depois da derrota de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022 e do fracasso da tentativa de golpe no 08 de janeiro, o fascismo nacional passou a ter como foco imediato a eleição do maior número de prefeitos e vereadores em 2024, como forma de se preparar para dominar o congresso nacional, além de eleger muitos governadores e, se possível, o presidente da República em 2026.
Para cumprir esse objetivo, estão sendo adotados dois caminhos. Em cidades onde não possui candidato competitivo às prefeituras, a extrema-direita irá apoiar postulantes do centrão, na busca de solidificar sua aliança com esse grupo.
É o caso, por exemplo, de São Paulo e Porto Alegre, onde apoiarão os atuais prefeitos Ricardo Nunes e Sebastião Melo, ambos do MDB. Entretanto, onde for possível, o foco será a eleição de prefeitos “puro sangue”, preferencialmente do PL, que caminha aceleradamente para se tornar o partido orgânico do Bolsonarismo.
Este será o objetivo em Poços de Caldas. Embora ainda seja desconhecido por uma parcela significativa da população e esteja sendo subestimado por grande parte dos atores políticos na cidade, o vereador e pré-candidato à prefeitura Marcelo Heitor (PL) tem boas chances de se eleger.
Quando decidiu rachar o grupo político que compôs a base do prefeito Sérgio Azevedo (PSDB) por oito anos, Heitor contava com alguns trunfos que o colocavam como forte candidato na disputa da base bolsonarista na cidade.
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Possuía forte inserção na base evangélica, além de ter um eleitorado próprio considerável, que o elegeu dois mandatos para a Câmara Municipal, além de lhe entregar 10.586 votos (13,52%) nas eleições para Deputado Estadual na cidade em 2022, tendo sido o segundo mais votado neste pleito.
Ao filiar-se ao PL, Marcelo Heitor passou a contar com outros trunfos para a disputa, como recursos financeiros abundantes do partido com maior fundo eleitoral e o apoio de importantes figuras da extrema-direita nacional, a exemplo do deputado federal Nikolas Ferreira (PL) – o segundo mais votado em Poços de Caldas em 2022, com 13.205 votos (16,29%) – e o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro.
Além disso, na primeira pesquisa realizada após o lançamento de sua pré-candidatura, o vereador já conta com 10% das intenções de voto, ocupando o terceiro lugar, além de ter a menor rejeição (3,5%).
Somando-se a isso a possibilidade de formar chapa com Regina Cioffi (PP) – atualmente com 9% das intenções de votos – fica impossível não considerar a candidatura da extrema-direita como bastante competitiva.
Por outro lado, seus principais oponentes estão encontrando problemas em suas campanhas. O Deputado Federal Ulisses Guimarães (MDB), representante do Centrão, apesar de liderar as pesquisas atualmente, manteve o patamar de 23% entre abril e julho, mesmo tendo anunciado milhões de reais em emendas parlamentares para a cidade.
Tal estagnação, somada ao leve crescimento de sua rejeição, pode indicar dificuldades para a campanha e o esgotamento da fórmula de conseguir um mandato parlamentar para ca-tapultar sua candidatura.
Já o campo progressista encontra-se em disputa fratricida entre a frente de partidos liderada pelo Dr. Eloísio (PSB) e o PT local, que não parece ter qualquer perspectiva de resolução no horizonte. Tudo isso colocado, fica claro que estamos em um cenário bastante perigoso.
A vitória de uma candidatura do Bolsonarismo, representado por seu partido orgânico (PL) em Poços de Caldas, terá repercussões trágicas.
A máquina da Prefeitura Municipal poderá ser usada para o emprego de pessoas e políticas extremistas, como ocorre em todos os entes subnacionais governados pela extrema-direita.
E o candidato presidencial deste campo em 2026 terá um forte palanque na principal cidade do Sul de Minas. Como cidadãos comprometidos com os valores democráticos e populares, cabe a nós torcer e trabalhar para que os representantes políticos do nosso campo tenham consciência dos riscos que estamos correndo e consigam deixar as diferenças de lado para unir forças na principal batalha de nossos tempos: o combate ao fascismo!
* Rafael Martins Neves é graduado em História e Mestre em Educação, servidor Técnico-Administrativo em Educação (TAE) no IF Sul de Minas – Campus Poços de Caldas