Eleições argentinas

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Ando acompanhando com curiosidade o que está acontecendo na Argentina e suas repercussões no Brasil. Tem sido no mínimo interessante ver o processo eleitoral de nossos vizinhos.

O presidenciável da extrema direita Javier Milei tem se esmerado em repetir barbaridades que sob o olhar de qualquer cidadão civilizado embrulha estômago e alma.

Coisas como legalizar a venda de órgãos humanos, ponderar sobre a venda de crianças ou ter como guru o espírito de um cachorro morto, sem deixar de citar o negacionismo típico de populistas de direita sobre o aquecimento global e outras questões do tipo que tão bem conhecemos.

No entanto, o que também me chama a aten-ção é sua proposta na área econômica que diretamente diz respeito aos interesses do Brasil. Falo do seu desejo expresso de se retirar do Mercosul, algo que, caso concretizado, traria um impacto enorme para a economia brasileira.

A Argentina é a terceira maior parceira comercial do Brasil representando 4,6% de nossas exportações, sendo que nossas vendas até setembro desse ano somaram US$ 13,6 bilhões e historicamente temos supera-vit na balança entre os dois países, ou seja, mais vendemos que compramos.

E o mais importante nessas vendas, a Argentina é um dos principais destinos de produtos industrializados e bens de capital como autopeças, automóveis e máquinas agrícolas.

Portanto, não precisa ter bola de cristal para saber que uma saída da Argentina do Mercosul teria de imediato efeitos altamente negativos para a economia brasileira como a retra-ção da produção industrial, o aumento do desemprego, reflexos na queda da taxa de juros e na inflação, tudo isso com força para frear a nossa recuperação que já é bastante tímida.

Por outro lado, Milei não expõe apenas a ignorância da extrema direita de seu país, mas também, de novo, a da brasileira uma vez que muitos políticos, uns com mandato e outros sem ou inelegíveis que se julgam grandes patriotas, não perderam tempo e correram para as redes sociais ou viajaram para solo portenho com intuito de defender um candidato a presidente cujas promessas eleitorais pretendem fazer o possível para arrebentar com a economia brasileira.

Fico pensando se ainda estivéssemos vivendo o pesadelo do governo anterior e os hermanos tivessem um candidato de extrema esquerda que denunciasse o Brasil por praticar um pequeno imperialismo na América do Sul e por isso justificar sua retirada do Mercosul, como se portaria a parte mais radical da nossa esquerda?

Mas isso é apenas um exercício de imaginação. O importante é como a nossa extrema direita, que se diz tão patriota, pouco se importar para os efeitos práticos e nocivos que será colocar um fanfarrão no governo de uma de nossas principais parceiras comerciais.

* Hudson Vilas Boas é professor de Sociologia na rede estadual de Minas Gerais, ex-secretário municipal de Cultura de Poços de Caldas e atualmente diretor da Escola Estadual Parque das Nações