Conjunto Habitacional: 40 anos

A entrega da chave foi realizada em 23 de agosto de 1981 e desde aí comemora-se anualmente o aniversário do bairro. Mas, a história não se inicia com essa data.

Após uma queda da economia turística sobretudo por conta da proibição dos cassinos, Poços de Caldas tem um enorme avanço industrial nas décadas de 1970 e 1980 impulsionado sobretudo pela exploração da bauxita ou na utilização dessa matéria prima.

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Além de empresas nessa área, das quais cabe citar, Alcoa, Curimbaba, Togni e Termocanadá, há um crescimento de outras, tais quais a Laticínios Poços de Caldas, mais tarde incorporada pela Danone, a Mitsui na produção de fertilizantes, a Cá d’Oro no artesanato de cristais.

Esse despontar econômico atraiu um fluxo migratório de pessoas de cidades vizinhas em busca de melhores condições de vida. Dessa forma, as condições de moradia para atender aos trabalhadores, naturais ou não de Poços de Caldas, eram insuficientes e, portanto, projetou-se um programa habitacional.

Contudo, tal como ocorre em muitos planejamentos urbanos, enquanto o centro recebe uma série de investimentos e a população de baixa renda é empurrada para áreas periféricas, esse cenário não foi diferente em Poços de Caldas.

A distância entre o Conjunto Habitacional e o centro é 8 quilômetros, num trajeto que se fez durante anos num enorme vazio de terrenos não loteados, que foram beneficiados pela especulação imobiliária. As chaves de 1.553 casas foram entregues em 1981.

Juntamente se entregou também ruas barrentas, fossas que vazavam fazendo com que o esgoto corresse a céu aberto, falta constante de água, transporte coletivo que não chegava em boa parte das ruas.

Por isso essa história não é de governadores nem de prefeitos benfeitores, mas sim, de trabalhadores que se articularam em associações de bairro e passaram a fazer manifestações, panelaços, pressões e/ou barganhas políticas para que o bairro fosse um lugar digno de se viver.

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Não é sem razão que atualmente a COHAB possuí ginásio, quadra, hospital, clube aquático, pista de skate, ruas trafegáveis, caixas d’água para o devido abastecimento.

Isso foi luta coletiva. Em entrevistas com moradores antigos é corriqueira a fala da ausência de violência e que isso poderia ser fruto de uma vivência comunitária muito forte, afinal tinham vários momentos de encontro e de vínculo, seja com a escola de samba, com a associação de bairro ou a União Recreativa Casas Populares.

O engraçado é perceber justamente que diante de uma coletividade, não havia a necessidade de muros entre as casas. Atualmente, muitas coisas mudaram. Muros físicos e simbólicos foram erguidos e as diversas festas realizadas no bairro ficaram para a história.

As pessoas ao invés de uma articulação entre os vizinhos, pautam su-as reclamações nos meios virtuais, em queixas pontuais e individuais que pouco atravessam para um planejamento a longo prazo.

Daí fica a provocação: se vamos comemorar o aniversário de um bairro, que tem uma história tão bonita e uma referência na zona sul de Poços de Caldas tão importante, qual nossa contribuição para esse espaço hoje?

* Ana Paula Ferreira é supervisora da rede estadual, pós-graduada em História e mestre em Educação. E-mail: anapaulakarenina@yahoo.com.br