Livros comentados por Hugo Pontes
O poeta, professor e jornalista Hugo Pontes comenta sobre lançamentos literários
»Substânsia, Alves de Aquino. Editora Substância, Fortaleza, CE, 2015
Inquietação e inquietude. Duas palavras que determinam a leitura do livro Substânsia, de Alves de Aquino (cujo pseudônimo é O Poeta de Meia-Tigela). Alternando as formas diversas que passa pelo poema em prosa até o poema visual, o autor expressa – explorando imagens e palavras – toda a sua idiossincrasia em relação ao universo no qual transita. Poderíamos resumir tudo em duas palavras: intelectualmente experimental.
PSIU (p. 57)
Ao ruído vence-o
mais cedo ou mais tarde o quedo
profundo Silêncio
»Antônio Brasileiro, Dedal de Areia. Ed. Garamond, Rio de Janeiro,RJ, 2006
Dedal de Areia é um título que, por si só, transmite uma suave visualidade. O que caberia num dedal? Sim! Um dedo, um dedo de prosa, um grão de areia. E um universo de palavras a dizer poesias. Assim é o livro de Antônio Brasileiro, poeta, artista plástico e professor da cidade de Feira de Santana,Bahia. Dedal de Poesias está dividido em três partes. A primeira é A Espuma das Coisas, trazendo poemas intimistas, nos quais – naturalmente – predominam o eu do poeta. O Cavaleiro, na segunda parte, é quase uma epopéia, canto em que o poeta se diz um Dom Quixote lutando contra os moinhos e fatos da vida. A terceira é Harpsichord Engomado. Nela o poeta extravasa o seu sentimento de inconformismo em relação ao mundo em que vivemos. Fala de si próprio e fala aos homens. Desabafo? Desafio? E a ideia de tempo, tempo que se esvai por entre os dedos. E, dessa forma, caminhamos para a maturidade na busca pela palavra que ave e lavra.
ÁPICES (p. 39)
Há o mar e o mar que o cerca.
Abracemo-nos, amigos.
»Eduardo Fontes, O Baile das Palavras. Expressão Gráfica e Editora, Fortaleza,CE, 2015
A poesia de Eduardo Fontes é a poética do “garimpeiro da palavra – como ele próprio diz – sempre na busca do ouro e da gema preciosa escondida ente cascalhos na bateia da linguagem.” Escrever para o poeta é sempre um parto: forma, conteúdo, estética, ética cujo objetivo é a expressão e, por consequência, a satisfação pessoal aliada à cumplicidade do leitor. O livro “O Baile das Palavras” é dedicado à palavra, à poesia e a fazer poético. E Eduardo Fontes o faz com muita criatividade e competência.
O POETA (p. 47)
O poeta é um esteticista
que busca a palavra bela,
é como um eletricista
que dá luz à cidadela!
»Carlos Nóbrega, Canto Aceso. Expressão Gráfica e Editora, Fortaleza,CE,2015
“Canto Aceso” é uma obra em que o autor, efetivamente, acende a chama do regionalismo na poesia como assunto principal, explorando temas nos quais o foco maior é a sua terra e a gente desse imenso e fértil Nordeste de cultura, paisagem urbana e sertaneja cearense. Para ler e comentar esse livro é preciso enveredar pela geografia poética de Carlos Nóbrega.
CACTO (p. 108)
Um cacto
é um sítio arqueológico.
É a primavera em ruínas.
É um fóssil morto
Que respira e chora.
É um espírito ancestral
da macieira.
É um totem.
*Hugo Pontes é poeta, jornalista e escritor.