Cidade sitiada: da trilha de burros às BRs

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Centro de uma região, Poços de Caldas é uma cidade privilegiada por sua natureza exuberante. Aliás, esse pedaço de chão é fruto da natureza.

Nasceu por sua riqueza contida nas águas termais e desenvolveu-se através dos esforços comuns para que a urbe fosse um balneário turístico.

Assim pensaram Pedro Sanches de Lemos, Francisco de Faria Lobato, David Benedicto Ottoni, Joaquim Bernardes da Costa Junqueira e os governantes mineiros de então. Concretizada essa ideia, coube a Francisco Escobar dar curso e consolidar as diretrizes.

Em 1908, Escobar – político habilidoso e competente administrador, percebendo as inúmeras necessidades locais – iniciou seu trabalho recuperando a denominada “Estrada Geral”, no trajeto entre a vila de Poços de Caldas até a sede do município que, na época, era Caldas.

Historicamente, a “Estrada Geral” corresponde, hoje, à picada, que liga o sul de Minas ao Vale do Paraíba e leva o no-me de BR 459 – Rodovia Juscelino Kubitschek.

Naquele século 19 o trajeto não era o mesmo, mas tinha o mesmo objetivo: A Estrada Geral escoava produtos alimentícios do sul de Minas para o Vale do Paraíba, chegando até a capital do império, o Rio de Janeiro, em lombo de burros.

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Bem, se Francisco Escobar tinha, na sua sabedoria e inteligência, a grande visão de futuro, o que podemos pensar dos governantes atuais que assistem passivamente as nossas estradas serem transformadas em trilhas perigosas. Decididamente não fazem nada para resolver a questão.

Candidatam-se e nas campanhas prometem seu empenho e, depois que estão aboletados no poder, dão uma solene “banana” para o povo.

Eles mesmos, para sair ou chegar nesse atoleiro de estradas, devem viajar em avião, via Campinas. Poços de Caldas e região vêm acumulando perdas econômicas irreparáveis nesses anos de buraco em que estamos vivendo. As BR’s 459 (Poços-Pouso Alegre – ainda há um trecho crítico lá na serra de Ipuíuna) e 267 (Poços-Machado) e a 146 (Poços -Andradas) não conduzem mais para se chegar a Poços e nem nos deixam sair da cidade, em direção às Minas Gerais. A bússola indica mais a direção ao Estado de São Paulo, que é o caminho por onde a cidade começou a crescer, graças à chegada da ferrovia em 1886.

Um cronista, sob o pseudônimo de Banhista Renitente, no início do século 20 escrevendo para o jornal Revista de Poços, sugeria: “Que tal se colocássemos um cordão sanitário separando Poços de Caldas de Minas Gerais?”

Por certo as nossas ditas autoridades políticas que aqui garimpam votos, se dediquem com mais afinco à tarefa de começar a valorizar o esforço da população em lhes dar crédito. Talvez possam trabalhar mais pela cidade e pela região.

A hora de deslumbramento acabou. Vivemos uma realidade que exige de todos seriedade e trabalho. Mas o que acontece é que todos são penalizados: comércio, indústria, serviços e – significativamente – o turismo.

Estamos sitiados pelos buracos, péssima sinalização, pelo falseamento da realidade e, mais agora, pela compulsória cobrança de pedágios.

* Hugo Pontes é professor, poeta e jornalista. E-mail: hugopontes@pocos-net.com.br