Campus Ituiutaba reflete situação geral da Uemg
Poucos dias após encerrarem uma ocupação no campus de Ituiutaba (Triângulo), alunos da Universidade Estadual de Minas Gerais (Uemg), e representantes do movimento estudantil discutiram, nesta terça-feira (22/10/19), a situação da instituição, durante audiência da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Falta de infraestrutura física e de insumos básicos para funcionamento de laboratórios, fazenda agrícola quase abandonada, falta de professores concursados e de recursos para assistência estudantil foram alguns dos problemas trazidos à audiência.
A estudante Marcella Ventoso Luciano Pereira, vice-presidente do Diretório Acadêmico da Uemg de Ituitutaba, disse que a ocupação do campus, que durou 18 dias, foi uma medida drástica, mas necessária, para dar visibilidade à luta dos alunos pela melhoria da universidade. “Tudo que conseguirmos para Ituiutaba será estendido para as outras unidades”, afirmou Marcella Veloso, que viajou por 11 horas juntamente com outros alunos, para participarem da reunião na ALMG.
A iniciativa de propor a audiência pública foi do deputado Cristiano Silveira (PT), autor da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 26/19, que dispõe sobre o repasse de recursos para a Uemg e para a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), proibindo a retenção ou bloqueio de recursos públicos destinados à essas universidades.
Ao final da reunião, os estudantes entregaram ao deputado Cristiano Silveira um manifesto da comunidade acadêmica de Ituiutaba, em defesa da proposta.
A presidente da Comissão de Educação, deputada Beatriz Cerqueira (PT), também uma das signatárias da PEC, garantiu que a carreira dos servidores da Uemg, assim como as condições de trabalho dos docentes, também serão objeto de audiência pública, em breve.
Após ouvirem as demandas de alunos e do corpo técnico da universidade, ela e o deputado Cristiano Silveira elaboraram requerimentos solicitando, entre outras medidas, que seja cumprida também a Lei 22.929/18, que também trata do repasses de recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) para pesquisa nas universidades estaduais.
Participantes reivindicam realização de concurso público
A Uemg tem hoje cerca de 22 mil estudantes distribuídos entre 20 campi, sendo que 2.412 alunos estão em Ituiutaba. O vice-reitor da Uemg, Thiago Torres Costa Pereira, destacou que a universidade ainda vive um momento de transição, após a absorção recente das antigas fundações educacionais que hoje a compõe. Segundo ele, até os processos de compras de materiais ainda estão causando conflito, uma vez que agora tudo tem que ser feito dentro da burocracia e das exigências estatais.
Os participantes da audiência enfatizaram, ainda, a necessidade de que a universidade tenha mais professores concursados. De acordo com o vice-reitor, hoje são 1.207 designados em toda a Uemg, o que representa 2/3 do corpo docente.
A pró-reitora de Ensino da Uemg, Michelle Gonçalves Rodrigues, professora da unidade de Barbacena, fez questão de ressaltar que os designados “são altamente qualificados” e vêm se esforçando para fazer a instituição funcionar. Ela alertou, no entanto, que, para o fortalecimento dos programas de ensino da Uemg é essencial que a universidade tenha mais professores concursados, o mais rápido possível.
Orçamento – O diretor de Ciência e Tecnologia da União Nacional dos Estudantes (UNE), Patrick Cesário de Souza Silva, comparou o orçamento anual da Uemg, que seria de R$ 187 milhões, atualmente, com o orçamento da Universidade Estadual de São Paulo (USP), que seria de R$ 5 bilhões por ano. “Gostaria que nossa luta fosse para garantir mais recursos, mas ainda estamos brigando para que aquilo que já é lei seja cumprido”, afirmou o estudante.
O chefe de Relações Institucionais da Secretaria de Estado de Educação, Bernardo Henrique Miranda, foi quem representou a secretária Julia Figueiredo Goytacaz na audiência. Segundo ele, o congelamento no orçamento da Uemg vem de vários governos passados, desde 2013, mas garantiu que o Executivo está se esforçando para aumentar os recursos destinados às universidades estaduais, apesar de toda a limitação financeira do Estado, e que a educação, em todos os níveis, é sim uma prioridade do atual governo.
Após ouvir o representante do governo, o deputado Elismar Prado (Pros) destacou que a falta de prioridade para as universidades estaduais não é recente, mas piorou no atual governo. Na opinião dele, o governador Romeu Zema só pensa em vender as empresas estatais, em passar para a iniciativa privada serviços essenciais como fornecimento de água e esgotamento sanitário.
“Todo governo vai dizer que educação é prioridade. Quem vai dizer que não? Mas essa fala tem que ser comprovada pelas ações!”, disse o deputado ao criticar a postura do governador.
Alunos de baixa renda precisam de ajuda para permanecer na universidade
Estudantes e funcionários da Uemg pediram ajuda do Legislativo Estadual para que sejam destinados mais recursos para a assistência estudantil, de modo a garantir a permanência dos estudantes de baixa renda, nas universidades. A demanda também será levada ao governo do Estado pelos deputado Cristiano Silveira e pela deputada Beatriz Cerqueira.
O aluno e presidente do Centro Acadêmico de Psicologia, Ewerton Donis de Melo, descendente de quilombola, um dos primeiros de sua família a ter a oportunidade de fazer uma faculdade, afirmou que 77% dos alunos da Uemg são oriundos de escolas públicas e precisam muito da assistência social. “Muitos deles vão assistir as aulas como fome ou passam o mês inteiro comendo arroz com angu, para realizarem o sonho de se formar”, disse o líder estudantil.
Para a coordenadora de Assuntos Estudantis e Comunitários da Uemg, Jordana Perdigão Alvarenga, diante da situação por que passa o país, não se pode falar em universidade apenas com o tripé Pesquisa, Ensino e Extensão. “Para que haja democratização do ensino e desenvolvimento social, temos que falar agora em quatro eixos, incluindo entre eles a Assistência Estudantil, ponderou.
“Sim, temos que discutir também sobre o perfil do estudante da Uemg, porque é o povo, são as pessoas mais carentes que estão tentando estudar ali”, disse a deputada Beatriz Cerqueira.