O impacto da pandemia no comportamento dos cães


Cães cada vez mais fazem parte da nossa vida e da nossa rotina, faz muito tempo que esses laços foram estreitados, fazendo com que mais que cães, esses seres tão especiais, ocupem o espaço de membros das nossas famílias.

Vivemos nos últimos meses situações inéditas para toda a população e cada um, à sua maneira, buscou formas de viabilizar a dura realidade do confinamento. O que se viu foram inúmeras pessoas despreparadas, impactadas pelo tempo livre e extra do confinamento, desesperadas por alguma atenção, distração ou qualquer tipo de interação que os devolvessem a sensação de uma vida normal.

Vimos a adoção de cães em abrigos subir para números nunca antes vistos… e eu senti que teríamos em breve uma catástrofe, também nunca vista antes. Assim que as vidas voltassem ao normal, as rotinas se organizassem, muitas pessoas que adotaram por impulso, não estariam preparadas para a realidade de uma vida cotidiana e as responsabilidades dos cuidados com um cão.

Portanto a informação nesses casos, da forma correta de educar e de solucionar problemas de comportamento já existente e, também, traçar uma rotina adequada e amparar esses donos de cães, é fundamental.

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Grupo 1 – Cães que já conviviam com suas famílias antes da pandemia.
Os cães desse grupo sofreram mudanças nas rotinas. A grande maioria foi educada e condicionada dentro de rotinas totalmente diferentes. Disponibilidade de tempo e de pessoas costumava ser mais escassa antes da pandemia. O cão costuma ficar ansioso quando não entende o que se espera dele.

Quando acostumado a uma rotina, isso muda drasticamente, o cão entra em um processo de adaptação, ele precisa de certa forma entender e antecipar o que acontece a sua volta.

Quando não consegue fazê-lo, os distúrbios de ansiedade começam a aparecer. Alguns cães respondem a ansiedade com distúrbios psicossomáticos, podendo adoecer fisiologicamente, outros podem se tornar agressivos ou agitados e outros desenvolvem apatia.

Grupo 2 – Cães adotados no período da pandemia.
Foram condicionados a uma disponibilidade de tempo excessiva, pessoas sempre presentes, concessões, liberdade em excesso. No caso desse grupo de cães, o que preocupa, é a rotina que eles encontrarão. Temos a métrica de não permitir a um cão, na fase infantil ou da adaptação, aquilo que ele não terá permissão para fazer quando adulto.

Esse grupo de cães, na sua maioria, irá desenvolver ansiedade por separação. Distúrbios no processo do entendimento do vínculo e da liderança, pela liberdade demasiada que lhe foi oferecida na fase de educação e da adaptação.

Ambos os casos são preocupantes, porque abalam não somente a saúde e o comportamento do cão, mas também debilitam e fragilizam a harmonia desse membro dentro de uma convivência com seu grupo. Para ambos os casos existem maneiras de colocar as coisas no lugar.

Entendendo seu comportamento instintivo, podemos nos comunicar diretamente com eles em uma linguagem clara e assertiva. O que nos permite não só corrigir o que precisa ser corrigido, mas também alinhar comportamentos e emoções, tornando não só o cão mais feliz e saudável, como todo o grupo a sua volta.

Evitamos abandono, distanciamento, distúrbios de comportamento e permitimos que o cão cumpra sua verdadeira função que é le-var harmonia e fazer parte de um grupo. Transitar o cão de uma realidade canina, para uma realidade humana, é o que as pessoas costumam fazer de forma intuitiva e daí nasce a grande maioria dos distúrbios.

É muito comum a essa convivência tão próxima, as pessoas oferecerem uma vida quase humana aos seus cães e, como cães, expostos a problemas humanos, eles não conseguirão resolvê-los. Essa é outra realidade a essa convivência tão próxima que o confinamento nos expôs.

* Adriana de Oliveira é cinóloga e etóloga especialista em comportamento canino