Black Flag
O jornalista Daniel Souza Luz escreve sobre a banda Black Flag, pioneira no punk hardcore
O jornalista Daniel Souza Luz escreve sobre a Black Flag, pioneira no punk hardcore e uma de suas bandas preferidas.
Amo Black Flag, é uma das minhas bandas favoritas. Não sei se gostaria de ver um dos shows da volta deles, não deve se equivaler à energia da época original, quando foram pioneiros do punk hardcore, e nem do Flag, banda montada por ex-integrantes tretados com o guitarrista Greg Ginn, fundador, o único membro remanescente da formação original e a única pessoa presente em todas as inúmeras míticas formações do Black Flag.
No ano passado sonhei que fui a um show deles. Sequer vi o show no sonho, mas o que vi deve ser melhor do vê-los de verdade – e consta que o Flag é ótimo ao vivo. De certa forma, vi o Flag no sonho, curiosamente com o único ex-Black Flag que já vi de verdade, o Dez Cadena, numa apresentação horrível do “Misfits” em 2011.
Show que foi um dos mais divertidos aos quais já fui: justamente porque não havia nada a ser visto, poguei o tempo todo, junto com vários amigos das antigas que estiveram em inúmeros rolês de punk rock comigo, em Bauru. Usei aspas porque nem era o Misfits de verdade, que para mim acabou em 1983; a volta deles sempre foi ridícula. Enfim, vou é contar como foi o sonho com o Black Flag.
Cheguei de mochila ao local da apresentação; era uma casa noturna fechada, com palco até que baixo, na altura do peito. Fui até próximo ao palco do lado direito, mas atrás de dois moleques. Um segurança os abordou e perguntou por que eles estavam usando uniformes dos correios.
Eles responderam que estavam matando serviço para poder ver o show. O segurança retorquiu que eles sequer poderiam estar ali, mas que faria vista grossa, desde que eles fossem ao banheiro trocar de camisa. Aproveitei para colar de fato no palco e a banda entrou sem o Greg Ginn para fazer a passagem de som.
Era o Dez Cadena na segunda guitarra, a Kira Roessler no baixo e um baterista que não identifiquei. A guitarra transparente do Ginn ficou em cima de um amplificador. De repente entra o Keith Morris e começa a cantar Revenge. Ou seja, uma formação do Black Flag que nunca existiu, com músicos que jamais tocaram juntos, pois são de épocas diferentes.
Como aconteceu comigo na vida real, no show do Agent Orange ao quai fui em 2014, quando vi a passagem de som, formou-se uma roda de pogo atrás de nós, mas preferi ficar grudado ao palco. A passagem de som foi só com Revenge e o público dispersou-se.
Fui ao banheiro, depois tomei uma sopa no bar (não me perguntem o porquê) e voltei preocupado em perder o lugar. Cheguei junto ao outro lado do palco, onde ainda havia espaço, e fiquei conversando com duas meninas. Dava para ver o setlist ao lado do baixo da Kira.
Falei que ia pedir para ela me dar o papel autografado; nisto a Kira, que estava com cabelo grande e pintado de loiro, passou e nos cumprimentou. Vimos que os panos se abriram e lá no fundo ela se encontrou com os outros músicos. Não sei se o Greg Ginn estava junto, pois as meninas do lado falaram-me que estavam enxergando-os borrados. Quando me esforcei para ver quem estava nos bastidores, minha vista também começou a ficar muito embaçada. Acordei, acabou o sonhou.
* Daniel Souza Luz é jornalista e revisor. E-mail: danielsouzaluz@gmail.com