Associação Atlética Caldense: 97 anos

Os anos de 1920 a 1930 transcorreram sob forte descontentamento da população brasileira. Grupos políticos, militares, classe operária e os empresários percebem que os ideais republicanos estavam sendo desvirtuados, pois havia muita corrupção no governo e as fraudes eleitorais eram evidentes.

Era presidente da República Artur Bernardes, que governou sob estado de sítio. Seu mandato foi marcado por muitas revoltas, destacando-se a que foi denominada “Tenentismo”.

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Fomentava-se em todo o povo o espírito de mudanças porque tanto a política quanto a economia iam mal. Entre 1920 e 1929 a indústria passou por transformações: as grandes empresas se fortaleceram e as pequenas desapareceram, caracterizando um processo de concentração de rendas.

Com a revalorização da moeda nos anos 1925 e 1926 os manufaturados estrangeiros invadiram o nosso mercado, trazendo problemas para a indústria nacional.

As mais sólidas eram as subsidiárias de grandes empresas estrangeiras, aqui instaladas há algum tempo, não só para escaparem das tarifas alfandegárias como para aproveitarem-se da mão-de-obra barata.

O Brasil estava em efervescência. A aliança política denominada “café-com-leite”, entre Minas Gerais e São Paulo, não tinha mais aceitação.

A sociedade rejeitava o domínio das oligarquias cafeeiras e da pecuária leiteira. Clamava-se pelo fim do coronelismo. Tantos movimentos e apelos culminaram com a Revolução de Trinta.

Poços de Caldas em 1925 tinha uma população estimada em 17,3 mil habitantes. O prefeito era José de Paiva Azevedo, nomeado pelo presidente do Estado de Minas Gerais, Fernando Mello Viana. A cidade vivia um momento crítico.

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Como em todo o Brasil, a política e a economia do Município iam mal, e isso preocupava os dirigentes locais. A população exigia mudanças. Inúmeras associações começaram a ser fundadas para cuidar dos interesses da cidade, da sociedade e das classes trabalhadoras.

Podemos citar como exemplo a Sociedade “Estrela do Sul”, de caráter social; as Sociedades de Socorro Mútuo “Stella di Itália”, “Lusitana”, e a “Espanhola”, cuja finalidade era defender os interesses das respectivas colônias de imigrantes; a Sociedade de Propaganda – fruto dos ideais de José de Paiva Azevedo, Mário Mourão e Cornélio Tavares Hovelacque – cujo objetivo era revitalizar o turismo local e divulgar Poços de Caldas no Brasil e no exterior; o Centro de Cultura Popular, de caráter intelectual e político – fundado por Fosco Pardini, Frederico Mencarini, Ângelo Vizzotto, Alexandre Veronezi, Roberto Moretti, além da tentativa de se fundar a Universidade Popular, em uma reunião no Clube Minas a 20 de fevereiro de 1927.

Todo esse movimento vinha numa hora em que a cidade se insurgia contra a Companhia Melhoramentos de Poços e Caldas.

Essa empresa – de propriedade dos senhores Cássio Prado (SP) e Renó Lage (RJ) cujo gerente era José de Paula Leal, de Belo Horizonte – há anos explorava as águas termais e outras atividades rentáveis como o Grande Hotel, Hotel Empresa, Palace Hotel, Hotel Moderno, Teatro Politeama, Éden Cabaré, cassinos, Termas, Balneário Macacos, Centro Telefônico, Horto Florestal, além da criação, abate e comércio de suínos na “Chácara do Palace”.

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Há algum tempo a Companhia Melhoramentos deixara de investir na cidade. Com a exploração dos cassinos e das águas os proprietários julgavam ter compensado seus investimentos e conseguido atingir os seus objetivos.

Arrecadou, amealhou e levou o lucro para ser investido em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde residiam os diretores da empresa.

Não sem tempo a Estância reagiu. Através da Sociedade de Propaganda, a população solicitava do presidente do Estado, Fernando Mello Viana, que Minas Gerais indenizasse a Companhia Melhoramentos de Poços e Caldas pelas benfeitorias realizadas e assumisse aquilo que pertencia ao poder público: a sua maior “riqueza natural – as águas sulfurosas.”

Tal foi a pressão que a “Melhoramentos” pediu concordata e retirou-se para sempre, tendo o governo seguinte assumido o destino das águas.

Com Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, presidente do Estado e tendo como prefeito nomeado o médico Carlos Pinheiro Chagas, Poços de Caldas passa por uma efetiva mudança anteriormente reclamada pela população como: saneamento básico, água tratada, energia e a urbanização das vias e construção de prédios públicos.

Foi nesse cenário histórico que a Associação Atlética Caldense foi fundada por João de Moura Gavião. Era o início de um novo tempo de uma nova empresa que resiste com o passar dos anos como uma das instituições sócio-esportiva mais sólidas da cidade de Poços de Caldas, hoje sob a presidência de Rovilson Ribeiro.

* Hugo Pontes é professor, poeta e jornalista. E-mail: hugopontes@pocos-net.com.br