Assassin’s Creed é um completo desastre
Assassin’s Creed é baseado numa série de jogos de enorme sucesso
O crítico Marcelo Leme comenta sobre o filme Assassin’s Creed, adaptado da série de jogos de sucesso no videogame. Para ele, a adaptação decepciona.
Assassin’s Creed, o filme, é baseado numa série de jogos de enorme sucesso. Os jogos também renderam livros. Ao longo da história, quantos filmes baseados em games deram certo?
Difícil de lembrar. Assassin’s Creed não foge a regra. É ruim. É visualmente cafona, mas não é um completo desastre. Chega perto. Se você chegar para a sessão com uma hora de atraso, não terá perdido nada. São 60 minutos de ação genérica que não leva a lugar nenhum e 40 minutos finais com alguma história.
Uma bela história, devo dizer. A ação melhora também. A quebra de cadência é notável. Será que roteiro era para um curta? Ou realmente não tinha muito a dizer? Callum Lynch, o herói de sobretudo e capuz, descobre que é filho de um membro de uma poderosa Ordem de Assassinos.
Através de memória genética estimulada por uma máquina chamada Animus, se lança a Espanha durante o século XV, revivendo um guerreiro ancestral pronto para enfrentar os Templários. Muito legal na sinopse, mas tão pobre na realização. Haja Animus! Opõe-se ciência e religião e não parece ter ninguém disposto a dizer algo inteligente sobre o tema a não ser reafirmar lados: ciência ou religião.
O excelente Michael Fassbender é quem vive Callum Lynch e curiosamente também assina a produção do longa. Deve ter descoberto que essa segunda função não é a dele. Fassbender é um dos mais talentosos atores a surgir nos últimos anos. Muito disso deve-se a sua parceria com o cineasta Steve McQueen, com quem realizou 3 excelentes filmes.
O que é bastante curioso com relação a atuação de Fassbender aqui é que ele parece não ter se desvencilhado do personagem de um de seus últimos filmes, Macbeth: Ambição e Guerra (2015). Até a maquiagem se assemelha. E há outras ligações com este filme baseado em uma das mais célebres obras de Shakespeare. Macbeth: Ambição e Guerra e Assassin’s Creed tem o mesmo diretor, Justin Kurzel, e o mes-mo roteirista, Michael Lesslie.
E também tem a presença da sempre marcante Marion Cotillard. A parceria rendeu nova produção, mas infelizmente fez-se uma obra bastante inferior a anterior, com diálogos pobres e situações risíveis. Não dá nem pra defender enquanto um fan servisse. Que tivesse seguido existindo somente no jogo, oras!
Pra falar bem francamente, a ação do filme é fraca, depende de boas imagens e de uma câmera que transita o espaço mostrando a dimensão dos distintos universos: o século XV e os anos recentes. Deve ser uma referência plástica as imagens do jogo, de maneira similar a Warcraft (2016). Outra sensação durante o filme é que o estilo de narrativa parecia demasiada com a da falida saga Divergente.
Um outro roteirista, Bill Collage, escreveu A Série Divergente: Convergente (2016). Assassin’s Creed, o filme, não é bom nem em tentar divertir. É entediante. Os efeitos competentes adornam imagens bonitas numa trama rasa que encontra algo interessante ali, próxima de seu fim, quando o filme finalmente nasce e acontece. O ritmo muda e a história ganha algum contorno. Tarde demais!
Ou não, já que o interesse era vislumbrar o futuro da série e preparar o espectador para sequências. Que estas sejam melhores, caso venham. Com o fracasso nas bilheterias, talvez morra por aqui. O que Charlotte Rampling estava fazendo ali? A presença dela em cena deu um peso enorme ao filme, mas fora subaproveitada. Deverá ter mais espaço futuramente, de acordo com a forma que sua personagem termina. Jeremy Irons marca presença, mas pouco entrega.
E Cotillard, geralmente deslumbrante, derrapa numa personagem insossa que não tem tempo algum para soar minimamente pertinente. E olha que sua personagem é responsável por tudo o que a trama propõe. E poderia terminar tocando Creed. Sugeriria My Sacrifice. É bem isso!
* Marcelo Leme é psicólogo e crítico de cinema. E-mail: marceloafleme@gmail.com