“Adolescência”: uma análise psicológica, humana e crítica

A minissérie "Adolescência" conta a história de Jamie Miller, um garoto de 13 anos acusado de assassinar uma colega de escola.
Aprofundar-se no tema é importante para compreender o que está por trás ou o que leva uma pessoa a tal ação.
A ideia não é justificar o fato ocorrido, pois, para provas, não há argumentos, mas a análise explica e chama atenção para como a ausência de vínculo emocional genuíno dos adultos que cercam o adolescente, em um mundo dominado por algoritmos, mensagens cifradas e influenciadores, onde, em um contexto de desumanização, pode contaminar uma sociedade.
O filme demonstra a masculinidade em crise, uma escola sem estrutura alguma servindo de espelho para a alienação ideológica, a violência de gênero e a repressão afetiva.
A saúde mental do adolescente em pauta é desprezada. Em uma sociedade como esta, deixa-se de lado a importância de acolher o jovem e dá-se pouca atenção ao sofrimento emocional pelo qual ele passa, esquecendo-nos do quanto a falta de responsabilidades sobre crianças e adolescentes, bem como a ausência do diálogo familiar, pode levar à desumanização extrema.
A série mostra a omissão do adulto e de uma sociedade que invisibiliza o adoles-cente, permitindo que este se torne um adulto constituído à sua própria sorte.
Existe aqui a falência dos laços sociais e o colapso da escuta, do cuidado e da responsabilidade com-partilhada.
É preciso estar atento aos impac-tos destrutivos das redes sociais e de influenciadores misóginos sobre os adolescentes, bem como a forma como o entorno da comunidade e das redes sociais fortalece conspirações e visões que culpam a vítima pelo ocorrido, ignorando atitudes e demonstrando como as instituições estão enfraquecidas e desacreditadas no fortalecimento da construção humana.
Em minha análise, não vejo o menino da série como um psicopata, mas como um adolescente partido, com muitas inseguranças, baixa autoestima e muita fragilidade devido a todo sofrimento mental e a uma desconexão com a realidade a qual ele pertence.
Ele tenta suportar o insuportável para si, sentindo-se vítima de inúmeros ataques na internet e de uma grande impotência para lidar com todos esses fatores, sem um adulto para ajudá-lo a enfrentá-los.
Ao final da série, os pais, mesmo que relutantes, avaliam sua culpa, mas essa situação familiar também não é fácil.
Pelo contrário, é angustiante, levando ao questionamento do pai: “Se nosso filho não é um bom menino, será que eu fui um bom pai?”
Há muita fragilidade emocional em torno das relações, o que enfra-quece o contexto familiar e promove um “efeito dominó” passado de pai para filho - ciclo que só poderá ser quebrado caso a geração compreenda que a reprodução de certos padrões pode ser tóxica, levando ao enfraquecimento das relações e à fragilização da saúde mental do indivíduo.
Isso é especialmente preocupante no caso dos adolescentes, que sofrem com diversas mudanças psicológicas, hormonais e corporais na puberdade, desconectando-os das relações humanas.
Enfim, o que fica claro na série - e trazendo para nossa realidade - é que os pais não se dão conta do que acontece com seus filhos na vida virtual.
Como alerta, sugiro que os pais escutem, acolham e deem voz a seus filhos, entendendo que essa é uma fase em que o jovem fica vulnerável e fragilizado.
Precisamos criar nossos filhos para compreender que o papel da mulher mudou. Hoje, a mulher tem voz e precisa ser respeitada. O homem não pode tentar conduzir as situações da forma que lhe convém.
Ele não foi treinado para compreender essa mulher empodera-da, dona de suas atitudes e vontades, o que o leva à insegurança e, muitas vezes, a excessos - desvalorizando o sexo feminino e tentando desclassificar essa mulher para se sentir su-perior ou para não se enxergar como um homem fraco diante das situações que o envolvem.
A série é um alerta sobre como tratamos o adolescente nos dias atuais, seja pela omissão familiar, seja pela negligência das instituições que deveriam acolhê-los, mas muitas vezes os tratam com invisibilidade, sem saber lidar com as questões atuais que envolvem esse ser humano em desenvolvimento.
Questiono o despreparo das escolas diante de tantos problemas sociais e psicológicos atuais, pois essa instituição não con-segue se atualizar nem oferecer um suporte adequado a esses adolescentes.
Aqui registro algumas observações e reflexões, esperando que sirvam como alerta a todos nós.
* Cristiane Fernandes é psicóloga clínica, pedagoga, funcionária pública, bacharel em música, mestre em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida
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