A Festa Uai
O professor, poeta e jornalista relembra sobre a criação da Festa Uai
O professor, poeta e jornalista Hugo Pontes relembra sobre a Festa Uai, criada em 1983 pela Prefeitura de Poços de Caldas.
O termo folclore (folklore) é um neologismo criado em 1846 pelo arqueólogo Ambrose Merton – pseudônimo de William John Thoms – e usado em uma carta endereçada à revista The Athenaeum, de Londres. A palavra é uma combinação dos vocábulos da língua inglesa folk (povo) e lore (saber), passando a ter o significado de saber tradicional de um povo.
A palavra passou a ser utilizada para se referir às tradições, costumes e superstições das classes populares. Posteriormente, passou a designar toda a cultura nascida principalmente nessas classes, dando ao folclore a condição de história não escrita de um povo.
Apesar de o avanço da ciência e da tecnologia ter levado ao descrédito muitas dessas tradições populares, a influência do pensamento positivista do século XIX contribuiu para dignificá-las, entendendo-as como elos em uma cadeia ininterrupta de saberes que deveria ser compreendido para se entender a sociedade moderna.
Assim, com a conscientização de que a cultura popular poderia desaparecer devido ao novo modo de vida urbano, seu estudo se generalizou, ao mesmo tempo em que ela passou a ser usada como elemento principal em obras artísticas, despertando o sentimento nacionalista dos povos.
Depois de seu início e crescimento na Europa, o estudo do folclore se estendeu ao pelo mundo, chegando ao Brasil na segunda metade do século XIX através dos precursores folcloristas Celso de Magalhães e Sílvio Romero. Com a aceitação dos registros e estudos sobre as manifestações populares, o folclore teve seu reconhecimento no Brasil e ganhou – não uma data – mas um mês inteiro de comemorações e atividades.
Em Poços de Caldas, de uma certa forma, para celebrar o mês dedicado ao folclore, no ano de 1983, a Secretaria de Educação e Cultura, sob a direção do professor Sérgio Manucci, por sua Divisão de Cultura, tendo a professora Margarida Valente como diretora, criou – com o apoio de uma comissão nomeada pelo prefeito José Aurélio Vilela, integrada por Maria José de Souza, Margarida Abrão Valente, Darcy Ladeira Dias, Walderez Medina, Mariângela Prézia Gomes (Malala), Antônio Carlos Viviani (Kakalo), Kajany Moreira dos Santos, Mário Costa, Hugo Pontes e Celso Saraiva – a Festa Uai.
Importante salientar, para que permaneça na memória, o grande empenho do, então vereador, professor e funcionário municipal, Antônio Carlos Valente. No ano de 1984, em virtude do sucesso da primeira Festa, o jornal “O Estado de S. Paulo”, em editorial do dia 12 de agosto, sob o título Uai? Uai é uai, uai!, diz: “No caso de Poços, sem grande alarde, busca-se um objetivo maior; a sustentação de um reflorescimento da cultura popular regional na tentativa de que suas mais tradicionais manifestações não morram silenciosamente.”
A Festa Uai hoje com os seus 36 anos de manifestação ininterruptas, e 30 de realização, tornou-se um centro de atividades de lazer e manifestações populares no sul de Minas. À época em que foi criada, a festa tinha por proposta que as barracas fossem exploradas pelas entidades culturais e assistenciais. Cada uma delas deveria apresentar uma candidata para fazer parte do concurso denominado A Flor Cabocla.
O outro era para premiar a Barraca Típica mais Original e, como o passar do tempo, incorporou homenagens a figuras populares e a cantores sertanejos, além dos terços, e a apresentação de grupos de congada. Também era parte central do regulamento que cada barraca servisse uma comida típica mineira. Sem que as barracas concorressem entre si apresentando a mesma iguaria.
Sem dúvida, a Festa Uai foi um marco e tornou uma atração turística em Minas Gerais. Isso porque a manifestação trazia consigo a tradicionalidade, a dinamicidade, a funcionalidade, e a aceitação coletiva, tornando o folclore, em seu conjunto, inse-rido no que se denomina – na atualidade – Bem Imaterial. É bom entender que a manifestação folclórica não se cria por decreto. E também não deve ser propriedade de alguém. A Festa Uai é um celebração que exalta uma data, um momento e uma tradição que é o saber popular.
* Hugo Pontes é professor, poeta e jornalista. E-mail: hugopontes@pocos-net.com.br