A consciência é negra
Celebrar o Dia da Consciência Negra é apreender o que de negro há em nosso passado
O prefeito Eloísio do Carmo Lourenço comenta o seu sentimento sobre o Dia da Consciência Negra, comemorado no dia 20 de novembro.
No Dicionário, o vocábulo consciência designa o sentimento que permite ao ser humano vivenciar, experimentar ou compreender aspectos ou a totalidade do nosso mundo interior. Então, celebrar o Dia da Consciência Negra é oferecer a todos nós, brasileiros, a oportunidade de apreender o que de negro há em nós, nosso passado, nossa história e nossa herança comum. O assassinato de Zumbi dos Palmares, em 1695 – que motiva este Dia da Consciência Negra – é o grito mais forte da resistência de todos os negros deste país que, 320 anos depois, ainda expõe a marca da escravidão nos números da violência contra a mulher negra, nos recentes e reiterados casos de racismo e na matança de jovens negros, por exemplo.
Tomar consciência é, antes de tudo, colocar o dedo nesta ferida aberta e de difícil cicatrização que tem origem na institucionalização do racismo. Não é possível pensar em um Dia da Consciência Negra que efetivamente provoque reflexão, sem debatermos a questão do preconceito racial, naturalizado nas instituições brasileiras. Os Estados Unidos da América têm hoje um presidente negro. Poços de Caldas tem hoje um prefeito negro.
Esses avanços, impensáveis décadas atrás, são sim dignos de celebração, mas não garantem, por si, o fim do racismo e da violência contra a população negra e nem representam oportunidades iguais a todos. Sem nenhum medo de errar, afirmo que, para mim, conquistar a honra e a responsabilidade de me tornar prefeito de Poços de Caldas foi muito mais difícil do que para qualquer outro prefeito já eleito da cidade. Porque para nós, negros, não há possibilidade de erro. A herança negra traz consigo, historicamente, a pobreza, a baixa escolaridade, a dificuldade de formação profissional. Mas a negritude traz também a resistência e a gana de conquistar espaços.
A luta vale a pena e alcança êxitos históricos, mas o combate à discriminação e, especialmente, ao racismo institucionalizado, naturalizado nas famílias, nas escolas, nas igrejas, nas empresas, nos órgãos públicos, na sociedade civil, na mídia, não pode cessar. Zumbi, seu grito forte tem que ecoar sempre e ganhar cada vez mais amplitude. É questão de memória e de justiça.
* Eloísio do Carmo Lourenço é prefeito de Poços de Caldas