Roteiro apressado quase compromete Operações Especiais
Cléo Pires não faz feio enquanto protagonista
Avaliação do Editor
O crítico Marcelo Leme comenta sobre “Operações Especiais”, que acaba de ser lançado nos cinemas. O filme é mais um da safra nacional que tem como mote os bastidores da Polícia.
Cléo Pires já tem alguma história no cinema. Nada que lhe eleve. Decidiram, então, dar uma arma a ela e lhe oferecer o protagonismo de um drama de ação. A atriz é pequena e aparentemente frágil, precisa se desdobrar para apresentar alguma rigidez num cenário de violência. A seu favor está a fragilidade que sua personagem necessita, até certo ponto. No mais, o filme cria uma história a partir da fuga de bandidos na época da ocupação do complexo do Alemão. Espalhados, são perseguidos pela polícia numa cidade interiorana. A perseguição chega a um nível a ponto de colocar várias outras pessoas em xeque, o que provoca resistência dos habitantes sobre os métodos implacáveis do grupo que luta contra a corrupção.
O roteiro, longe de ser engenhosos ou inovador, tem um artifício convencional que visa despertar nossa atenção pelo filme: começa com uma pancada! Se você já assistiu vários filmes de ação que acompanham investigações, especialmente apresentadas a partir de uma narração em off, então perceberá similaridades com o que acontece aqui. Uma policial está no meio da ação, empunhando arma e partindo para o ataque junto a um grupo de homens. A cena seguinte traz a mensagem informativa de que a história irá retroceder. Então acompanharemos os motivos pelos quais essa policial ingressou-se no batalhão.
Essa estrutura de passagens temporais é utilizada à exaustão e Operações Especiais não tem vergonha alguma em reutilizá-la. Uma cidade é inteiramente vasculhada. Esquemas de corrupção são revelados, abrindo margens para outras discussões que vão além da interferência da polícia civil. A melhor coisa do filme reside justamente aí, no papel da justiça.Ela é traduzida pelas motivações do personagem de Marcos Caruso, o delegado Paulo Froes.
Seus discursos valentes, ácidos e calejados dão conta de dimensionar o que seu grupo duramente enfrenta. O filme é bom quando mantém atenção a rede de corrupção, revelando-a. Uma pena seu horizonte ser outro, a evolução de Francis (Cléo Pires) em meio as desconfianças e preconceitos de gênero. Interessada pelo salário, presta concurso e destaca-se no treinamento. Nesse plano, Cléo Pires não faz feio enquanto protagonista. Sua função felizmente não é funcionar como símbolo sexual num meio dominado por homens. Com rabo de cavalo e pouca maquiagem, se assume robusta numa conversão que o roteiro não consegue fazer bem. As transições comportamentais parecem ter ficado na sala de edição.
Há ótimas cenas de ação e de perseguição. Essas não devem em nada a grandes produções. E o melhor, não são cenas cuja vaidade sobrepõem o valor da obra. Operações Especiais é um bom filme de ação que carrega temas importantes dentro da atual conjuntura política do país. Só não é melhor pelo roteiro ser demasiado apressado a ponto de parecer muito mais episódico do que naturalmente desenvolvido diante seu foco que é a integração de uma mulher no corpo policial. O diretor Tomas Portella, que dirigiu Cléo Pires no raso Qualquer Gato Vira-Lata (2011) e chamou atenção no atmosférico Isolados (2014), demonstra competência e versatilidade. Vale a espiada, ainda mais para lamentar pela corrupção que abriga impiedosamente todas as esferas.
* Crítico de cinema e psicólogo