Stiff Little Fingers
O jornalista Daniel Souza Luz escreve sobre a banda Stiff Little Fingers
O jornalista Daniel Souza Luz escreve sobre a banda Stiff Little Fingers e a sensação de escutar o som deles.
Quando ouço Stiff Little Fingers a sensação que tenho é que as músicas são conhecidas desde sempre, não só por ser uma típica banda punk 77 cujo som eu gosto tanto, como também pelo fato de que o timbre da guitarra lembra os primórdios do Toy Dolls, essa sim uma banda que me acompanha desde a infância.
Ou, melhor dizendo, o timbre da guitarra do Olga do Toy Dolls é que parece o do Stiff Little Fingers, que surgiu antes. Mas só fui conhecê-los, de qualquer forma, em 1999, com o advento do Napster e do MP3. Foi o segundo grupo que aproveitei para conhecer com a novidade; o primeiro foi o Half Japanese, porque àquela época o Ratos de Porão havia lançado um EP com uma versão de uma música deles, Fire to Burn.
Voltando ao Stiff Little Fingers, como ao longo dos anos sempre lia sobre eles, mas nunca tinha escutado de fato, estava na hora de tirar o atraso. Só baixei algumas músicas mais conhecidas, como Alternative Ulster e Suspect Device, domingo de manhã, quando havia velocidade de banda o suficiente para isso.
A internet era discada e aos domingos e de madrugada era cobrado um só pulso. A linha ficava ocupada a manhã toda, mas não havia outro jeito para conseguir o som, esta era a hora em que havia menos tráfego de dados. De madrugada às vezes deixava o computador ligado ao telefone e não conseguia sequer baixar uma música do SSD que tinha meros trinta segundos.
Uma recordação curiosa que isto me traz: morava em Bauru naquele ano e esse provedor de internet tão lerdo era de um sujeito que posteriormente foi acusado de supostamente desviar recursos do campus local da USP, justamente para montar essa empresa.
Outra lembrança marcante que o Stiff Little Fingers me evoca é uma noite em que estava na sala dos fundos de um bar, o Let’s Rock, em Poços de Caldas, em 2011, ficando com uma menina de quem gostava muito então. Do outro lado havia outro casal, também se pegando. Estava tocando nas caixinhas de som alguma típica banda que sempre rolava lá, AC/DC, ZZ Top, Thin Lizzy, sei lá, gosto de todas, mas nem eu e nem ninguém estava interessado.
Suspect Device irrompeu nas caixas de som surpreendentemente; larguei a moça na hora e falei para ela “Gosto demais desse som!”, mas demorou um pouco para lembrar o que era; há anos não escutava. Reparei que o cara que estava com a outra menina do outro lado da salinha também a havia largado e parecia escutar o som extasiado.
Perguntei, meio que afirmando, empolgado: “Stiff Little Fingers?”, ao que de pronto ele respondeu entusiasmado que sim. Ficamos quietos ouvindo a música e elas ficaram esperando pacientemente. Quando acabou a música quando um voltou para a sua garota e não nos vimos nunca mais, mas por dois minutos e trinta e sete segundos foi uma boa amizade.
* Daniel Souza Luz é jornalista e revisor. E-mail: danielsouzaluz@gmail.com