Prédios novos já velhos

O jornalista Daniel Souza Luz escreve mais uma crônica com reminiscências da sua infância

O jornalista Daniel Souza Luz escreve mais uma deliciosa crônica com reminiscências da sua infância.

Eram com estéticas iguais, mas com disposições diferentes, de acordo com a topografia. Ambos divididos em dois blocos; um era perpendicular à rua, o outro era paralelo. O uso do verbo no passado não está correto. Eram não, ainda são. Edifícios Alfa e Beta.

Na minha memória, no entanto, eram. Morei, quando criança, no Beta. Na verdade, de recém-nascido até o fim da adolescência e começo da vida adulta. De 1974 a 1993. Vi várias fases nele. A época em que havia árvores na rua. Quando foram arrancadas. Quando era pintado de branco com as janelas verdes. Mudaram completamente a cor hoje, é bege – ou salmão, não sou bom em diferenciar isto.

Não gostei. Talvez melhor do que quando a pintura ia ficando descascada, antigamente. E as grades brancas enferrujadas. Mas prefiro lembrar delas assim. Primeiro baixas, depois altas. Hoje há um portão que impedindo a entrada de não moradores. Antes a entrada para a escada que dá acesso aos apartamentos era livre, havia apenas um portão interno deveria ser fechado à noite, por volta das 22:00 – lembro-me de meus pais fechando-o.

Até pouco tempo ainda podia-se entrar livremente lá, de dia. Fui até a porta do apartamento onde passei a infância, o número 101, em 2013. Não bati nas portas (são duas) para saber quem mora lá ou como ele está por dentro. Vivo sonhando com ele, tal como era, ou surrealmente modificado. Prefiro assim, que o apê permaneça como lembrança e como um ente onírico.

* Daniel Souza Luz é jornalista e revisor. E-mail: danielsouzaluz@gmail.com