PT, 43 anos

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Em 10 de fevereiro de 1980, recebi um telefonema de São Paulo pedindo-me que fosse à casa do Professor Antônio Cândido de Mello e Souza, aqui em Poços, para apresentar-lhe um convite para integrar a primeira Comissão Executiva Provisória do Partido dos Trabalhadores.

Eu trabalhava havia meses discutindo e apresentando a proposta de criação do PT, que foi concebido em nossa cidade em julho do ano anterior, durante um Congresso de Metalúrgicos.

Já havia me encontrado com o Lula em uma reunião em São João da Boa Vista quando ele disse, para meu desânimo, que nosso projeto era um projeto para 25 anos.

Vinte anos depois, eu chegava à Prefeitura de Poços e 22 anos, Lula chegava à presidência da República. Antônio Candido eu não conhecia ainda e fui a sua casa com o coração aos pulos, intimidado com a grandeza e expressão do professor e com o tamanho da minha tarefa – falar em nome das lideranças do PT e convidá-lo para ser um dos nossos dirigentes.

Antônio Cândido logo me deixou à vontade; perguntou meu sobrenome e ao ouvi-lo quis saber se era parente do Pedro D’Arcadia, escritor e professor na cidade de Assis (SP). Disse-lhe que sim: Pedro, que morreu muito jovem, era neto do irmão mais velho do meu avô, a quem chamávamos de Pedrucho.

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“Seu parente teria sido um grande escritor, se a morte trágica não o levasse tão cedo”. Tratou-me com muita simplicidade e cortesia e dis-se que poderia integrar o Diretório, mas não poderia dispor de tempo para ser membro da Executiva.

E assim, Antônio Cândido de Mello e Souza, que participara da fundação do PSB em 19-45/46, integrou a primeira direção do PT. Esse acontecimento me veio à memória quando comemoramos quarenta e três anos do Partido dos Trabalhadores.

Um partido que nasceu para ser de lutas, de massa, para o trabalhador ser votado e não apenas votar. Um partido que aprendeu a ser de resistência, desde os primeiros dias, combatido pelas elites e também por lideranças que se julgavam herdeiras da tradição da esquerda brasileira.

Um partido que nasceu propondo um caminho próprio para o socialismo, negando as formulações tradicionais de partido e regime, o adesismo e as experiências autoritárias como referências, incorporando experiências de acertos e erros históricos. Aprendemos a resistir desde as primeiras horas.

O combate ao PT foi intenso e sempre marcado pelo que hoje chamamos de “fake news” – da mansão de Lula no Morumbi no início dos anos 19-80 ao triplex do Guarujá, o objetivo foi sempre o mesmo – aniquilar ou inviabi-lizar um partido com as nossas características. Não conseguiram.

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Seguimos de pé e altivos – vencemos cinco das nove eleições presidenciais desde a redemocratização, enfrentamos um golpe covarde, uma parcela corrupta do judiciário e do ministério público.

Resistimos e avançamos. Quarenta e três anos depois, estou aqui, onde sempre estive, com as mesmas convicções, os mesmos ideais de justiça, igualdade e fraternidade, com a mesma disposição de lutas daquele jovem convocado para convidar o Professor Antônio Cândido para a direção do partido.

Aquele que afirmou: “o socialismo é uma doutrina triunfante. O que se pensa que é face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele com suor, lágrimas e sangue”.

* Paulo Tadeu D’arcadia é ex-prefeito, ex-vereador, médico veterinário e presidente do Diretório Municipal do PT. E-mail: ptsdarcadia@gmail.com